29 de junho de 2006

Vinho, Mentiras e Vídeotape


Dessa vez ele se passou! Michael Haneke é realmente um dos grandes filhos da p... do cinema, no melhor dos sentidos. Sim! Porque quando eu crescer eu quero ser que nem ele.

Depois de "Violência Gratuita" (cujo título original "Jogos Divertidos" funciona melhor) e de "A Professora de Piano", Haneke explora em seu filme mais recente, "Cachê", tudo o que de melhor o cinema europeu tem - sempre e teve e não pára de reencontrar - e não perde a linha na construção desse filme pra lá de inquietante.

Um casal de classe média começa a ser assombrado por vídeos que começam a surgir misteriosamente na porta de sua casa. As gravações exibem horas de filmagem da fachada da casa ou de outras imagens que vão incitando a construir um quebra cabeça de queimar os fuzíveis.

Nesta aparente produção francesa comum mora o charme cruel de Haneke, que opta mais uma vez por um filme limpo, de atuações sóbrias e inteligentes de Aulteiul, Binoche, e (pra falar a verdade) de todo elenco. E o principal: um filme que não tem as velhas pretenções de deixar mensagens fechadas e direcionadas. A versão de Haneke está posta, mas não é única. E isto é parte grande da maestria do cineasta: quem constrói o quebra cabeça se as questões parecem não se afunilar para um desfecho?

"Caché" é um acontecimento raro no cinema. Trata-se de um filme que inquieta por nos fazer tentar desvendar um suposto mistério. Um filme que nos barbariza com suas metáforas silenciosas. Seus videotapes nos põem diante de um enigma sem uma solução apropriada. E Haneke... bem, já não há mais adjetivos pra esse homem, devo confessar.