1 de julho de 2009

Adeus, Pina!

"Não me interesso em como as pessoas se movem, mas no que faz elas se moverem"

Pina Baush
(1940 — 2009)













Trecho de um texto de Fernando Eichenberg para a Revista Bravo:


Criança, a bailarina e coreógrafa alemã Pina Bausch costumava permanecer acordada até tarde da noite e passava boa parte do tempo sob as mesas do café-restaurante do pequeno hotel administrado por seus pais, August e Anita, na cidade de Solingen, onde nasceu. De seu semi-esconderijo, observava atentamente as relações em sua intensidade cotidiana: encontros e desencontros, casais que brigavam ou se apaixonavam, a força do amor que podia provocar mal-entendidos, a atração repentina ou mesmo a perda de um emprego. "Havia tantas pessoas, tantas coisas estranhas se passavam, a vida acontecia", disse certa vez.

A menina cresceu e, do assoalho da infância para as novas dimensões da vida adulta, suas perspectivas do mundo se ampliaram. Como coreógrafa, Pina Bausch revolucionou a arte da dança contemporânea no século 20 e se impôs nos palcos internacionais com um estilo próprio de dança-teatro, o seu Tanztheater. [...] "Tudo é tão forte. Eu gosto de olhar, sentir as coisas, e dar uma forma a tudo isso por meio de meu trabalho, deixar a vida e o amor emergir", diz em entrevista a BRAVO! num final de manhã em Paris, a silhueta esguia e longilínea acomodada numa das poltronas da platéia deserta do Théâtre de la Ville, escala da turnê de seu espetáculo Rough Cut.

A vida condensada em suas conexões humanas, com suas ambivalências, imperfeições, sofrimentos e alegrias é o leitmotiv das criações de Pina Bausch, encenadas pela sua companhia Tanztheater Wuppertal, com sede na pequena Wuppertal, uma cidade chuvosa do vale do Ruhr, próxima a Colônia. Conhecida do público brasileiro por diferentes turnês e mesmo um período de residência no país, que inspirou o espetáculo Água (2001), a coreógrafa traz agora a São Paulo e Porto Alegre mais um de seus trabalhos, Para as Crianças de Ontem, Hoje e Amanhã (2002).

A coreografia não é sobre crianças, mas uma tentativa de reencontrar por meio delas a imaginação, os sonhos e a credibilidade da infância. Em meio ao cenário composto de três imensos muros brancos, móveis e perfurados por duas grandes portas, 14 bailarinos dançam, brincam e se arriscam de forma ao mesmo tempo perigosa e lúdica em contrapontos entre o imaginário infantil e a difícil passagem para a vida adulta. "Crianças são tão sensíveis, frágeis. Não tenho palavras para o sofrimento delas em tantas partes do mundo. Experiências que provavelmente não desaparecerão tão facilmente", diz. Mas, fiel ao seu otimismo-realista, ela abre espaço para um futuro menos dolorido: "Como podemos continuar com isso, como podemos manter a esperança? Se você puder rir já é algo, uma esperança".



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