29 de agosto de 2011

Manual para amores estéticos



Não idealize o tempo dos abraços e o desenho dos afetos. Deixe eles seguirem o caminho que há de ser. Não dirija uma encenação na sua cabeça. Deixe os outros atores criarem seu próprio texto e jogue com eles. O processo criativo disso que inventaram chamar de amor revelará a função de cada sujeito. Calcule apenas o uso das falas (elas podem ser mal compreendidas, inclusive por você). É importante que os candidatos ao ofício não tenham muitas opiniões a respeito de sua função no processo. Lembre-se, caro aspirante: o espontâneo é prioridade. Não balize o conceito de amor pelo que sente pelos seus amigos (os caminhos são distintos e ninguém explicou isso no colegial). Não espere redes de proteção, pára-quedas nem seguros de vida. Contente-se com o que é verdadeiro na dramaturgia (com o tempo os pequenos atos serão de um tamanho satisfatório na memória). Espreguiçamentos conjuntos sem horário para acabar, silêncios desconcertantes, olhares envergonhados, e palavras mal escritas no seu texto são aspectos da mais alta importância. Não acredite nos poetas: eles ficaram famosos por mentir para você (em primeira e terceira pessoa). Entre no barco com os dois pés (o máximo que pode ocorrer é uma estreia mal sucedida, ou uma temporada sem apelo de crítica). Amor, que é amor não afoga (mesmo que faça perder o ar). Separe apenas o que for levar na viagem. Não imponha o seu tempo para cada cena. Deixe as águas correrem sem criar barragens. Menos fé cênica e mais pé na tábua. Amor é algo que se reescreve sem decorar as falas. E o mais importante: não acredite em instruções sobre esse tema. Tudo se transforma.

5 comentários:

Ocagado disse...

amei demais
<3

Daniel Olivetto disse...

PHê, sempre dou risada quando leio "Ocagado", hahahaha...

Beijos e "tb te loveio" (bordão que veio pra ficar, rs)

Raquel Stüpp disse...

Dani, adorei adorei adorei.
devias escrever mais!
beijo

Aretha disse...

Gato, ver você crescer, profissional e principalmente pessoalmente ao longo desses últimos anos, é um presente que faz a minha vida valer cada segundo.

Esse texto tá tão lindo, de uma pureza e auto conhecimento admiráveis, de uma sensibilidade e poesia, que só quem vive, de verdade, pode ter.

Tenho um baita orgulho de ti, um orgulho apaixonado que agora queria estar aí, pra te esquentar com um abraço.

Te amo.

Daniel Olivetto disse...

Arê, fiquei tréje e sem palavras...

Vou ficar quietinho então!

Te Amo, xuxu!