Manual de empacotamento para principiantes
Comece separando caixas... como se qualquer quantidade de papelão pudesse guardar tudo que se acumula ali dentro da casa já desfigurada. Separe sacos plásticos grandes, como se quisesse sufocar ou tornar lixo tudo aquilo que não quer levar...
Embale com cuidado os livros que leu nesta última estada, e embale com maior cuidado ainda os que já muitas vezes foram encaixotados mas nunca folheados... eles devem guardar segredos que você não quis conhecer. Embale os retratos velhos, os novos, os rasgados, os que tem furo de percevejos, os retratos que mancharam na porta da geladeira, os retratos escondidos.
Embale o pijama que ficou de lembrança e que agora você vai ter que levar. Guarde entre os lençóis alguns abraços matinais com cheiro de chuva das seis e quinze.
Encaixote os bibelôs que fizeram tanta alegria besta, e guarde com eles a simetria da casa, os vidros embaçados, os sons noturnos, as conversas de almoço, as festas não planejadas, as rolhas de vinhos com escritos de datas especiais, os registros de ultimas invenções gastronômicas... Derrame algumas lágrimas no quarto vazio [só depois tire a cortina]. Enrole em jornais os afagos que você não quiser esquecer [jornais garantirão a segurança de objetos frágeis].
Doe os LPs e os VHSs [os tempos mudaram e você não percebeu]. Passe adiante roupas com cheiros especiais... elas servirão melhor a outros... Passe fita de polipropileno pro que não for desencaixotar tão cedo. Ande uma ultima vez de meias por toda a casa vazia. Fume um cigarro na sala, já que ali nunca foi lugar pra isso. As ultimas lágrimas devem ser dispostas sobre a planta adotiva já que você esqueceu de regá-la ultimamente. Calcule o tamanho da árvore dos fundos, compare as recordações com medidas exatas. Memorize o que deixou pra trás pelas marcas que o sol desenhou nas paredes. Tudo está ali ainda.
Embale com cuidado os livros que leu nesta última estada, e embale com maior cuidado ainda os que já muitas vezes foram encaixotados mas nunca folheados... eles devem guardar segredos que você não quis conhecer. Embale os retratos velhos, os novos, os rasgados, os que tem furo de percevejos, os retratos que mancharam na porta da geladeira, os retratos escondidos.
Embale o pijama que ficou de lembrança e que agora você vai ter que levar. Guarde entre os lençóis alguns abraços matinais com cheiro de chuva das seis e quinze.
Encaixote os bibelôs que fizeram tanta alegria besta, e guarde com eles a simetria da casa, os vidros embaçados, os sons noturnos, as conversas de almoço, as festas não planejadas, as rolhas de vinhos com escritos de datas especiais, os registros de ultimas invenções gastronômicas... Derrame algumas lágrimas no quarto vazio [só depois tire a cortina]. Enrole em jornais os afagos que você não quiser esquecer [jornais garantirão a segurança de objetos frágeis].
Doe os LPs e os VHSs [os tempos mudaram e você não percebeu]. Passe adiante roupas com cheiros especiais... elas servirão melhor a outros... Passe fita de polipropileno pro que não for desencaixotar tão cedo. Ande uma ultima vez de meias por toda a casa vazia. Fume um cigarro na sala, já que ali nunca foi lugar pra isso. As ultimas lágrimas devem ser dispostas sobre a planta adotiva já que você esqueceu de regá-la ultimamente. Calcule o tamanho da árvore dos fundos, compare as recordações com medidas exatas. Memorize o que deixou pra trás pelas marcas que o sol desenhou nas paredes. Tudo está ali ainda.