27 de novembro de 2007

Manual de empacotamento para principiantes

Comece separando caixas... como se qualquer quantidade de papelão pudesse guardar tudo que se acumula ali dentro da casa já desfigurada. Separe sacos plásticos grandes, como se quisesse sufocar ou tornar lixo tudo aquilo que não quer levar...

Embale com cuidado os livros que leu nesta última estada, e embale com maior cuidado ainda os que já muitas vezes foram encaixotados mas nunca folheados... eles devem guardar segredos que você não quis conhecer. Embale os retratos velhos, os novos, os rasgados, os que tem furo de percevejos, os retratos que mancharam na porta da geladeira, os retratos escondidos.

Embale o pijama que ficou de lembrança e que agora você vai ter que levar. Guarde entre os lençóis alguns abraços matinais com cheiro de chuva das seis e quinze.

Encaixote os bibelôs que fizeram tanta alegria besta, e guarde com eles a simetria da casa, os vidros embaçados, os sons noturnos, as conversas de almoço, as festas não planejadas, as rolhas de vinhos com escritos de datas especiais, os registros de ultimas invenções gastronômicas... Derrame algumas lágrimas no quarto vazio [só depois tire a cortina]. Enrole em jornais os afagos que você não quiser esquecer [jornais garantirão a segurança de objetos frágeis].

Doe os LPs e os VHSs [os tempos mudaram e você não percebeu]. Passe adiante roupas com cheiros especiais... elas servirão melhor a outros... Passe fita de polipropileno pro que não for desencaixotar tão cedo. Ande uma ultima vez de meias por toda a casa vazia. Fume um cigarro na sala, já que ali nunca foi lugar pra isso. As ultimas lágrimas devem ser dispostas sobre a planta adotiva já que você esqueceu de regá-la ultimamente. Calcule o tamanho da árvore dos fundos, compare as recordações com medidas exatas. Memorize o que deixou pra trás pelas marcas que o sol desenhou nas paredes. Tudo está ali ainda.

23 de novembro de 2007

A cada segundo

pra esquecer as biritas paracetamol, pra chorar as pitangas ombro, pra andar descalço varanda, para pegar leve consigo bicho-preguiça, pra dar risada baralho, pra perguntas difícies google, pra bagunçar o sótão Bauman, pra alterar os ânimos serotonina, para sacudir o esqueleto Smiths, pra não levar a si mesmo tão a sério respiração, para o melhor ângulo precisão, pra não ouvir a noite circulador de ar, pra deixar o hoje vivo Vinícius, pra entender o obtuso insônia, para matar o ego: luz branca chapada [em 100%]

28 velinhas...

ai como eu adoro ficar mais velho

aquela sensação de ficar um poquinho melhor na dianteira...

valeu aí...

3 de novembro de 2007

Aos que vieram antes nós:


Por que temos tanta consciência do que nos afeta [e continuamos alimentando o cão]?
Por que sentimos tanta saudade?
Por que não se escolhe quem ama [assim, bem simples] ?
Por que não esculpimos o mundo apenas de objetos e certezas?

Ele olhava à volta e não queria mais entender nada. Foco no teto. Silêncio

- Há quanto tempo o senhor sente essas coisas?
- Não sei. Eu queria não sentir nada. Tem jeito, doutor?