10 de janeiro de 2009

Retrô 7 :: Melhores Filmes de 2008 :: pelo Dono do Barraco

My turn! Eu vi pouquíssima coisa esse ano [perto do que já foram os anos em que eu trabalhava menos, ou nos que eu trabalhava em vídeo-locadora]. Em 2008, pra parir uma monografia e ainda dar conta de atuar, produzir, dar aula, lavar roupa e bater cartão no Blues Velvet, eu tive que correr muito.[e quem vê jura que eu tô rico]. Aí vi poucos e bons filmes. Com o tempo tão curto eu só me presto a sair de casa – tanto pro cinema quanto pra locadora - se tenho certeza de que “é aquele filme mesmo que eu quero ver”. Então vou comentar 10 filmes e algumas atuações, roteiros, diretores que me emocionaram em 2008. Como não sou especialista no assunto, e não vou ficar discutindo questões técnicas à fundo. São comentários em geral bem afetivos, ok? Se estiver esperando uma crítica coerente aqui, bueno, você veio ao blogue errado.



10) MAMMA MIA!


Ok! Ok! Não é bem o tipo de filme que eu acharia “um dos melhores do ano”, aliás, fui ver com vários pés atrás, depois de muita insistência do Malcon. É muito clichê, é muita breguice, é muito ABBA na cabeça, gente! Fiquei me sentindo uma bicha quarentona cantarolando as musicas e achando toda aquela palhaçada algo crível. Mas, realmente o charme desta comédia está no elenco divertido liderado por Meryl Streep numa atuação do tipo “dignidade até vestida de disco girl”. Ela consegue usar de todos os grandes clichês de “atores de musical” de forma genial. Um filme, talvez, pouco “importante para o cinema”, mas, digamos que às vezes uma atuação memorável já vale um filme todo. Leve sua mãe ou um amigo divertido e se prepare para o filme mais gay da década!



9) QUEIME DEPOIS DE LER


Os Cohen mal lançaram “Onde os Fracos não tem Vez” e já nos bombardeiam com uma nova pérola. Esses meninos são ultimamente meus diretores preferidos – pra mim “Fargo” e “O Homem que não Estava Lá” são dois dos clássicos de nosso tempo. Tudo de melhor dos Cohen está também nesse novo filme: violência, humor perverso, personagens patéticos, e uma coerência entre idéia e realização que dá inveja, gente! Frances McDormand está fantástica com suas obsessões por cirurgias plásticas para “reinventar” a si mesma. Uma atuação digna de prêmios, aplausos e muita “babação de ovo”. Só sei que quando acabou o filme eu fiquei com aquele sorriso de otário, depois de rir de tanta violência e crueldade, males que, como os Cohen já nos diziam em “Onde os Fracos não tem Vez”, parecem realmente sem solução.



8) VICKY CRISTINA BARCELONA


Woody é o nosso rei! Ele volta a acertar em cheio com este filme que tem no quarteto central de atores o carisma que qualquer diretor precisa pra ganhar nosso coraçãozinho. Assim como as irmãzinhas de “Razão e Sensibilidade”, Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johanson) são dois exemplos da impossibilidade de compreensão do que é o amor. Uma cheia de certezas, outra cheia de anseios inexplicáveis. Esse é um ponto central do filme: falar da nossa “super-capacidade” de definir os afetos, mesmo sem compreender quando eles estão diante do nosso nariz. Javier Barden em atuação charmozérrima e Penélope Cruz dando bafo a cada cinco minutos são outros pontos altos do filme. Só concordo com a Lola [Aronovich, do blog “Escreva Lola, Escreva”], que é muita ostentação pra um filme só. Cansa um pouco ver gente rica andando de jatinho, tomando vinhos em paisagens exóticas sem saber quem paga a conta. Fiquei me sentindo qualquer coisa, pois, minutos antes, eu estava achando um absurdo a minha pipoca custar mais caro que o ingresso! Mas a Rebecca Hall é um desbunde, de linda e de boa atriz!



7) SANGUE NEGRO


Acho um abuso isso: O Day Lewis fica anos sem fazer um filme e quando volta já “chega chegando”. Pra mim, em “Sangue Negro” ele chega ao auge de sua carreira, numa atuação tão refinada, tão cheia de detalhes, tão complexa, e tão difícil de definir que se eu encontrasse ele na rua, eu certamente gritaria: “Vai ser bom assim na puta que pariu!!!”. Paul Thomas Anderson é outro que – e isso já faz tempo – não precisa mais provar nada pra ninguém. É impressionante o quanto ele consegue investir num projeto totalmente novo em sua carreira, um filme com cara de “grandes épicos oscarizáveis”, e que, no entanto, exibe o melhor de suas características de diretor queridinho do cinema “alternativo”. “Sangue Negro” é um soco no estômago e busca nas origens da exploração do petróleo, uma discussão fortíssima sobre as ultimas guerras e conflitos políticos. Vale comentar que além de Day Lewis, tem o Paul Dano [o irmão que leu muito Nietzsche em “Pequena Miss Sunshine”] como um religioso desgraçado. A cena em que Lewis é “abençoado” por Dano em um culto religioso é algo antológico! Pelo menos aqui em casa vai ser sempre!



6) ESTÔMAGO


Filme porreta dirigido por Marcos Jorge, com roteiro cruel e inteligente, fotografia magistral, e belas atuações de João Miguel - um dos nossos melhores atores na ativa no Brasil- e Fabíula Nascimento - novata nas telas [acho eu] e dona de atuação segura e beeeemmm corajosa. Achei bárbara a maneira como o roteiro consegue fugir dos maniqueísmos e simplismos em que o cinema nacional anda se metendo quando resolve tocar nos “temas sociais”. Cheio de diálogos divertidos e muita comilança, o filme me deixava com fome e com nojo, ao mesmo tempo, uma combinação bem incômoda. Em “Estômago” tudo é muito visceral, e todo mundo é muito suspeito. Qualquer semelhança com a vida real...



5) A FAMÍLIA SAVAGE


Filmes de família com personagens patéticos e impasses dramáticos são sempre os filmes que mais me atraem. Em geral são filmes apoiados em bom roteiro e poucos e bons atores, e que não se propõem aos grandes recursos do “cinemão”. Este é um belo exemplo de filmes do gênero. Laura Linney, Phillip Seymour Hoffman, e Philip Bosco em atuações emocionantes, num filme sem “grandes cenas dramáticas” e que nos emociona pela sua simplicidade. Sempre acho que o que resulta simples é sempre mais difícil ainda de se conseguir, o que acontece nesse filme dirigido por Tamara Jenkis. Os personagens nos são revelados em pequenos suspiros, pequenas mentiras, algumas hesitações, num filme sem grandes reviravoltas, apostando numa sofisticada forma de revelar personagens que são gente como a gente: nos sorrisos falsos de Laura Linney e no seu excesso de “cuidado com o outro” vemos mais do que a personagem parece querer mostrar. E assim, o filme vai nos mexendo, sem querer provocar choradeiras ou grandes shows de atuaçào, mas nos pegando de leve, numa simplicidade que dói tanto quanto qualquer tapa de uma cena mega-dramática. O que é mais impactante, afinal?



4) ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ

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Fazia tempo que não me arrepiava tanto nem dava pulos da cadeira. Eu diria que é o filme mais sombrio e insuportavelmente silencioso que eu lembro de ter visto. Josh Brolin [ele fazia “Os Goonies”, lembram?], Tommy Lee Jones e Javier Barden em excelentes trabalhos. A crueldade dos Cohen chega em seu ponto decisivo, tanto em termos da forma como é desenvolvida quando no da própria discussão do tema. Um misto dos bons e velhos filmes policiais [pancadaria, perseguição, tiroteio] e dos dramas silenciosos que te cutucam e te fazem sair do cinema sem entender o que está à sua volta. Aliás, os cinemas precisam voltar para espaços fora de shopping. Este eu vi em DVD, mas confesso que se tivesse visto no cinema e caísse de cara na praça de alimentação eu afogava alguém num milk shake.





3) NÃO ESTOU LÁ


Como fazer um filme sobre Bob Dylan sem precisar contar a vida de Bob Dylan? Acho que esse é o trunfo de “Não Estou lá”, dirigido por Todd Haynes, um dos melhores retratos sobre artistas que a minha cabecinha lembra agora. Mais que isso, uma discussão madura sobre o papel do artista em meio ao contexto social, os sentidos do fazer artístico, a relação vida e arte, entre outros temas delicados presentes aqui. Cate Blanchet e Charlotte Gainsbourgh estão fantásticas no filme, que ainda tem atuações inspiradas de Christian Bale, do falecido Heath Ledger e até de Richard Gere, gente! Vou contar uma bizarra: fui ver com o Turnes e o Marcelo [Schroeder, nosso novo pop star revelado pelo “La Gonga”] e os três choravam feito três criancinhas sem mãe [eu avisei que não ia ficar fazendo análise técnica neste post, desculpa]. “Não Estou Lá” é uma história sobre a busca pela alma, num filme que não pede licença, e nem se preocupa em se explicar demais. Saí querendo todos os discos do Bob lá em casa e mandando o povo do cinema político pro inferno.


2) JUNO


Eu odeio ficar comparando filmes, mas a comparação entre “Juno” e “Pequena Miss Sunshine” que todo mundo fez no ultimo ano é bem certeira, não apenas por serem dois independentes que chamaram a atenção das principais premiações do ano, mas por serem filmes de méritos técnicos bem semelhantes. Em primeiro lugar temos um roteiro que consegue atribuir bons papéis até para os coadjuvantes que aparecem pouquíssimo. É uma habilidade pouco comum essa: um roteirista conseguir criar dualidades e conflitos mesmo para os personagens menores sem perder a mão na hora de resolver o desfecho. A inteligência em “Juno” vai desde os diálogos ácidos, passando pela discussão nada conservadora sobre a gravidez precoce, até a abordagem extremamente emocionante em relação ao amor, no sentido ampliado da palavra. Acho que é por aí que o filme me pega: é um filme sobre o amor, que relembra as comédias românticas do Frank Capra e os diálogos recheados de tiradas à la Woody Allen. O elenco faz jus aos bons personagens e constrói seres humanos adoráveis e cheios de dilemas. Ellen Page e Alison Janey são outro destaque do filme: a primeira uma novata que dá alma e humor ao personagem título e a segunda uma coadjuvante já bem experiente, e que atua como a divertida madrasta modernex. Dirigir bom roteiro e este time de atores deve ter sido divetíssimo para Jason Reitmann, que nos delicia como uma das melhores histórias de amor dos últimos anos.


1) CONTROL


Honestamente não sei qual o principal mérito de “Control”, meu preferidinho dos filmes que vi em 2008. Não sei se é o fato de ser um filme sobre o Joy Division e sua sombria atmosfera musical. Não sei se é a fotografia impecável, ou a direção que aposta justamente nos fortes quadros em PB para criar uma atmosfera muito digna do som da banda inglesa. Não sei se são as atuações estupendas de Sam Riley e Samantha Morton, como Ian e Débora Curtis, respectivamente o vocalista da banda e sua esposa. Deve ser tudo isso junto que faz a gente sair do cinema atordoado e silencioso. O diretor Anton Corbjin, que traz na bagagem os videoclips de bandas como Depeche Mode, busca na atmosfera musical do Joy Division o tom deste retrato de um artista e sua tristeza talvez inexplicável. Não se sabe se a tristeza de Ian vem de sua doença, ou do fato de não poder viver de sua música. A primeira imagem de Ian no filme, muito antes de se descobrir epilético, já é uma imagem de profunda melancolia: ainda adolescente em seu quarto ouve o último vinil de David Bowie e fuma com o olhar perdido no teto... o mais próximo de um momento feliz que ele parece ter. Desta cena em diante “Control” é uma sucessão de melancolias, silêncios, vazios, e muito Joy Division. Simples e Genial.


Aí vai o trailer de Control:


15 comentários:

Malcon Bauer disse...

Vou comentar um por um...
que eu gosto de falaaaaaaar!

10- Divertido e gay como vc falou...

09- Comédia ionteligentíssima em sua burrice. O elenco todo dá show, mas Frances arrasa pra valer!

08- Elenco afinado. Comentei na minha lista...

07- Já comentei no meu post. FODA!

06- Também já comentei.

05- Lindo filme. Elenco fantástico.

04- Javier Bardem é o assassino mais assutador do ano. E é incrível como o filme ainda consegue ser engraçado!

03- Achei o trabalho de srta. Blanchett ótimo. Mas não me cativou muito.

02- Liiiiindo. Também comentei no meu post.

01-Não vi. Vejo este mês em dvd...

Daniel Olivetto disse...

que petulante... comentando um por um ... mimimimimimimi...

ahaha

besos

lola aronovich disse...

Vc viu que eu odeio Juno, né?
Acho que vale a pena se perguntar por que tantos conservadores adoram Juno (até o Bill O'Reilly da Fox News o elogiou) se o filme é "nada conservador", como vc acha.
Abração!

Daniel Olivetto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Olivetto disse...

Ois... sobre O Juno...Sei lá né, Lola... gosto é gosto... cada vez acredito menos em "análises imparciais e técnicas"... eu, por exemplo achei Ensaio Sobre a Cegueira bem regular... se bem que eu não gosto do Meirelles desde Domésticas... [não vi o Jardineiro, by the way, que dizem ser o melhor dele...

Essa coisa do Juno ser queridinho pelos conservadores tenho um hipótese: se uma americano típico resolver achar Juno um filme legal provavelmente ele deve estar posando de modernex... americanos adoram isso...

Sobre o Golden Globe... adoro a Kate tb... merecidíssimo... agora, porque o Brasil ainda acredita que Rubens Ewald Filho é crítico de cinema? Sinto inveja de vc por não ter visto a cerimônia... o homem soltava uma pérola a cada dois minutos... rssss

arrasou no post sobre o Golden Globe...

abraços

Alex Nascimento disse...

oh my god, so vi o batmam!
ontem em casa, o filme é legazinho no começo, sabe coisa americana, mas as frases do curinga são de arrasar, o batmam é um homem feio (pela primeira vez no cinema, falo do ator),e o duas caras é o mais bonitinho, mas só de perfil né? depois da gasolina ele fica meio...
bom adorei o fim é emocinante, o filme acaba, graças a Je!

Maria Amélia disse...

Ai Dani
me senti a tança do cinema...
de todos os que tu criticou eu só vi Juno e Onde os fracos...
Ixi bichinho, acabo de perceber que meu ano foi fraco de cinema...

PS: muito chique o lay out do teu blog!!! Morro de inveja...
Me ensiiiinaaaaaaa!!!

bjões

Anônimo disse...

Filmes ótimos! Só faltou Wall.E, que é espetacular!

Abração!

L I B I D I N A G E M disse...

Ei, bom faro para filmes.

Abraços,
Cubiak

turnes disse...

Ai ai ai...

Ò céus, Control é lindo de morrer (boa expressão em se tratando de Ian Curtis e do Joy), pode ser que pegue mais àqueles que conhecem a música e a história do cara (sim refiro-me aos trintões ou interessados em rock oitentista), mas a fotografia e a interpretação do protagonista são arrepiantes. Triste, claro, muito triste.

Aliás, não lembro de chorar em Não Estou Lá, acho o filme mais estiloso do que emocionante. E meio longo (a parte do Richard Gere poderia não existir né?)Em Control sim, debulhei-me.

Adorei vossa lista, mas o Mamma Mia foi só pra soar descolado do tipo também curto bobices né? (rsrsrsr)

E ah metendo-me na conversa de vcs...sobre pq Juno agrada conservadores. O filme não revela nenhum tipo de subversão, mão ataca instituições, nem insinua revolta contra nada. È apenas uma história crível, com ares modernos e trilha que parece o disco da mallu magalhães. caretões podem gostar e se sentirem bem com isso.

escrevi demais

bejo

Daniel Olivetto disse...

ai Renato... tu chorava um monte nas cenas do Richar Gere... eeee alzheeeimmeerrrr

Daniel Olivetto disse...

e o Mamma Mia não é pra ser descolado... ahahaha... eu sou descolado... não sou? hummmm... ok,vou pensar

turnes disse...

Era um cisco no meu olho dani...

e sim, vc é o cara mais descolado que eu conheço...

ah esqueci: Família Savage adorei também.

Malcon Bauer disse...

Ora, Turnes... Vc nem viu o "Mamma Mia!"

Daniel Olivetto disse...

ahahaha... Bafooo... até que enfim!!!