29 de dezembro de 2010

Melhores Filmes de 2010 - Parte 2



por Vicente Concilio
ator, professor e loiro natural








10- Minhas mães e meu pai (dir. Lisa Cholodenko)

Duas atrizes incríveis (Annete Bening e Julianne Moore) elevam o nível deste tradicional filme-com-cara-de-Sundance. Com uma trama que poderia desbancar pra comicidade rasa, o filme opta por discutir os dilemas de um casamento longo com diálogos ótimos e um Mark Ruffalo atuando bem pela primeira vez, na minha modesta opinião.




9- Ilha do Medo (dir. Martin Scorcese)

Mais um daqueles filmaços em que o mestre demonstra erudição cinematográfica em um roteiro marcado pelo suspense e a manipulação psicológica tão cara ao gênero. Destaque para a fotografia e a edição, que em certos momentos parece estar equivocada, mas é estratégia de estranhamento das boas.



8- Dzi Croquettes (dir. Tatiana Issa e Raphael Alvarez)

Documentário imperfeito mas emocionante sobre a trupe de atores-dançarinos que se travestem e brilham e foram referência da contracultura brasileira nos anos 70. Pra ver com melancolia que a gente vive em um tempo careta.





7- O Escritor Fantasma (dir. Roman Polanski)

Mais uma vez Polanski desenvolve o tema da aparência versus realidade em uma trama na qual nem tudo o que é dito se comprova nos atos atuais ou fatos passados.








6- A Fita Branca (dir. Michael Haneke)

O filme de terror do ano. A crueldade da fotografia preto e branco só encontra paralelo nas atrocidades que disparam uma pequena inquisição na isolada vila germânica na qual se passa a história. É daqueles filmes que te abandonam em suspensão, tentando recuperar o filme na sua cabeça pra ter certeza que foi isso mesmo que você viu.






5- O Profeta (dir. Jacques Audiard)

Um drama carcerário francês no qual acompanhamos as maravilhas que uma prisão faz pelos seus condenados. O protagonista entra um pé-de-chinelo e sai de lá graduado como assassino, membro da máfia e traficante de haxixe, construindo toda a dinâmica de seus negócios praticamente dentro da cadeia. Grande atuação de Tahar Rahim.







4- A Rede Social (dir. David Fincher)

Mr. Fincher comprova sua vocação pra Forrest Gump moderno, ao contar uma história e ao mesmo tempo nos fascinar com a qualidade de sua direção. Tema atual e trilha sonora perfeita embalando a epopéia do Bill Gates do novo milênio.







3- Toy Story 3 (dir.Lee Unkrich)

Os gênios da Pixar, mais que grandes animadores, são mestres em roteiro. Pra quem assistiu ao nascimento da animação digital com o primeiro Toy Story, esse terceiro filme tem o tom da obrigatória transição pra vida adulta e todas as despedidas que marcam essa merda que é ficar velho. “To infinity and beyond!” contra o fantasma da morte pra um filmaço disfarçado de história infantil.




2- I am Love (dir. Luca Guadagnino)

No meu mundo, nada como delirar com uma saga familiar italiana na qual Tilda Swinton é uma imigrante russa casada com um rico industrial milanês, e que redescobre o amor em um caso adúltero com o sócio de seu filho. Com uma direção de arte e fotografia escandalosas, filmado em planos distantes que assombram e despertam nossa curiosidade por essas vidas de tom tchecoviano, I am Love é uma tragédia contemporânea que comprova o fascínio da combinação paixão, amor e morte. Tem gente que vai odiar profundamente. Azar deles.


1. A Origem (dir. Christopher Nolan)

Eu não perdi meu tempo tentando descobrir se o final pé isso ou aquilo, se é sonho ou realidade, se é delírio ou fato. O que me instiga em A Origem é o trabalho de mestre em recriar o clima dos sonhos em um filme de estrutura simples, mas cuja execução é soberba e fascinante, que busca recriar na tela os mistérios e a dimensão onírica de nossas fantasias mentais. E de como nossos sonhos nos ajudam a elaborar, reconstruir, transformar e fundir realidades . E tudo isso em um filme que é basicamente um assalto-thriller, que ainda tem o olhar de Marion Cotillard à beira do precipício pra mostrar que ator bom faz diferença no mundo dos efeitos especiais.




MENÇÕES HONROSAS!


Kick-ass (diversão bem acima da média);

The Runaways (a direção recria uma certa estética cinematográfica dos anos 70 e mostra o que está em jogo na indústria das celebridades musicais. Tem que agüentar a incapacidade interpretativa da Kristen Stewart, mas Michael Shannon está ótimo como um delirante produtor musical.

Atração Perigosa (Blake Lively mostra que pode atuar neste drama policial belíssimo);

A Single Man (Colin Firth é a alma que transforma em tesouro algo que poderia ser uma grande bijuteria de Tom Ford – claro que Julianne Moore faz seus 10 minutos em cena virarem um pequeno tratado sobre a arte de interpretar);

Chico Xavier (mais que proselitismo espírita, é um filme emocionante com grandes atores – Torloni e Nelson Xavier);

A Última Estação (Christopher Plummer como um agônico Leon Tolstoi e Helen Mirren como sua esposa desesperada com a possibilidade de perder seus bens renderam um ótimo drama histórico);

Coco Chanel e Igor Stravinsky (com moda e música e duas figuras desse porte, e uma reconstrução impecável dos bastidores da estréia do balé “A Sagração da Primavera”, esse filme merecia mais repercussão);

16 comentários:

Igor Lima disse...

melhor comentário ever:

"claro que Julianne Moore faz seus 10 minutos em cena virarem um pequeno tratado sobre a arte de interpretar"

hauhauhau.

Daniel Olivetto disse...

que seria da nossa vida sem o nosso loirão?!

turnes disse...

Ai, não concordo.

Malcon Bauer disse...

Bem-vindo ao maravilhosos e paranóico mundo das listas, Vi.

Sua lista tem vários filmes em comum com a minha (por isso, não vou comentá-los).
Quero muuuuito ver Dzi Croquettes e A Fita Branca. Os outros, estou mais curioso agora... hehe

Relamente não acho "A Origem" essa terceira revelaçào da Virgem não, apesar de achá-lo muito bom.
Mas polêmica é sempre ótimo!
Isso, vindo da pessoa que foi achincalhada por ter colocado "Avatar" em 2o lugar em 2009...

Pati disse...

Concordo com o loiro! Temos gostos parecidos! (quer dizer: ainda não consigo ver Glee! hehehe, sorry!)
Só Chico Xavier que não vi e não posso comentar!
Tô amando essa listinhas aqui! Quero mais!

Sandra Knoll disse...

Hum...adorei a listinha! Só não achei tudo aquilo a Rede Social...alguns não vi mas estão anotados pra ver!
Gracias pelas indicações. Confio!

Vicente disse...

Fica no ar a questão: com o que o Rê não concorda? Com a lista, com o meu comentário do Igor ou do Dani? Tô tenso já.
Eu também não acho que A Origem seja revolucionário, mas acho o filme mais interessante deste ano, que misturou sci-fi com thriller de assalto com drama dos bons, tem cenas incríveis e Marion.

turnes disse...

ai ai ai, vi, minha discordância é só pra causar, essa é minha função na lista.rsrsrs

Ah! Eu vi Dzi Croquettes e adorei (mas como vi no lançamento no festival de cinema de SP ano passado nem lembrei dele agora).

mas sabe o que eu mais gostei na tua lista? Sobre A Fita Branca: "o melhor terror do ano". tenho certeza que vc escreveu isso em algum sentido simbólico mas ao lembrar que certo dia me disseste que "não gostava de terror", achei uma super evolução em direção à liberdade da apreciação cinematográfica...

Daniel Olivetto disse...

tô sentindo cheiro de intriga! se é comigo eu não deixo barato!

Vicente disse...

Sabe que eu aprendi com o Tio Rê que o que eu chamava de terror era um monte de filme ruim que só serviam pra me deixar com tédio enquanto algum maluco esquartejava uma peituda loira sozinha na floresta. Eu descobri que gosto de terror bom, e não tolero os ruins, enquanto eu tolero a pior comédia romântica. Questão de teor de suportabilidade a filme mau.

Itamar Wagner Schiavo disse...

Fita Branca realmente é demais, tudo do Hanecke, gosto do suspense dele, das tensões que ele imprime nas cenas e do trabalho com os atores, as interpretações são sempre muito boas, neste filme ele consegue um grande desempenho das crianças, achei fantástico.

Fiquei muito curioso com o filme da Tilda Swinton que sempre arrasa, e a Julianne no filme do Tom Ford por pouco nao rouba o posto de bonequinha de luxo da Audrey, achei divina!

Eu amei o filme das sapatistas, a Annete Bening faz um belo trabalho, merece uma indicação ao Oscar, e eu gosto do Mark Rufallo, em outros filmes também... no brilho eterno... eu gosto dele Vic...

Vicente disse...

Eu sempre achei o Mark Ruffalo burocrático, nunca entendi como ele trabalhava com tanta gente boa. Achei que era a qualidade do agente dele que garantia sua presença em tantos filmes.

Sobre o Haneke, é uma obra-prima perturbadora na sua beleza. Eu gosto de coisas assim: que são luminosas e tensas.

paula albuquerque disse...

adorei a lista do vicente, vou tb procurar achar/baixar os que não vi. =) belos textos. coisa linda esse povo inteligente, meu deus!

Vicente disse...

Vocês viram que I am Love é o quarto filme de 2010 na lista de Tarantino?

turnes disse...

legal, mas de maneira geral essa lista do Tarantino foi strange pacas neam...

Malcon Bauer disse...

Robin Hood?
Ah, não, né, Taranta???