30 de dezembro de 2011

Os 10 Melhores Álbuns de 2011, pelo dono do blog!


Agora é a minha vez! Faz uns três anos que não publico lista de 10 Melhores Filmes do Ano por aqui (a última foi em 2008, nesse link) porque a música acabou nos últimos anos ocupando um lugar bem grande que antes pertencia ao cinema aqui em casa. Então vamos lá falar dos destaques musicais de 2011 segundo o dono da casa... Importante lembrar que, embora eu mereça um coluna na Rolling (rá!), comentários técnicos aprofundados sobre música você não vai encontrar aqui, ok? De todo jeito tenho me divertido por aqui compartilhando álbuns, canções, e novidades que os outros compartilham comigo... Diferentemente da lista do ano passado (nesse link) tentarei fazer um ranking, mesmo sabendo que arrependerei depois, rsrs... Então, vamos aos 10 de 2011 (ou seriam os 20?).


10 - Florence + the Machine - "Cerimonials"


Em seu segundo álbum de stúdio a banda inglesa liderada pela cantora Florence Welch consagra-se como uma das mais inteligentes e respeitadas do indie pop atual. Comparada à Kate Bush e Siouxie, Florence já é um dos mais belos vocais da atualidade, e mostra ainda que no quesito "divas" a música britânica continua muito bem servida. Das 20 belíssimas faixas que compõem o álbum vai aí a belíssima "Breaking Down" em preformance ao vivo.





9 - Nina Kinert - "Red Leader Dream"


Ninão virou diva em 2011, pelo menos aqui em casa. Esse álbum mesmo foi lançado em novembro de 2010, mas só "estourou" esse ano aqui, tipo ali na cozinha, porque eu moro com o Felipe Nyland, maior conhecedor de música indie do Brasil. A guria é sueca, é ruiva, é linda, canta e toca piano, tem 28 anos e esse é o seu quarto álbum.... oi?? É sério! Com arranjos refinados, vocais sofisticados e letras lindas, Ninão não é muito conhecida ainda, mas olha: ouve ela aí, que a moça vai dar trabalho! Pra quem não conhece ainda, dá também uma procurada pelo álbum anterior, "Pets and Friends"... Coisa linda, viu?!





8 - Noah & the Whale - "Last Night on Earth"

 
Desde 2006 os britânicos do Noah & the Whale tem criado uma boa repercussão na cena indie e chegaram em 2011 ao seu terceiro álbum, garantindo seu lugar entre as bandas mais descoladas do pedaço. Ainda desconhecidos por aqui, os rapazes londrinos brincam sem medo com o folk, e ainda tem colocado na roda excelentes videoclipes. Difícil não dançar na cadeira com "Waiting For My Chance To Come" ou com "Give It All Back", no excelente videoclip abaixo.



7 - Chico Buarque - "Chico"


Ouvindo de primeira, o album novo do marido da Mariana e da Aretha, digo, do Chico, parece aquele esquema "mais do mesmo"... "o que não é menos ilustre em se tratando de Chico", pensei eu ouvindo assim nas corridas. Mas, se você colar o ouvido com cuidado, vai relembrar que Chico é Chico, e nesse álbum novo, com canções a partir de algumas de suas crônicas e poemas, ele nos entrega uma das obras mais delicadas e inspiradas do ano. Impossível não se apaixonar por "Tipo um Baião", "Essa Pequena" ou "Se eu soubesse", em dueto com Thaís Gulin, que vai no link abaixo...





6 - Elbow - "Build a Rocket Boys!"

O quinto album dos brtânicos mais queridos do rock alternativo chegou logo no começo do ano e arrebatou o coração do dono desse blog. E tem mais: se eu for cantor na próxima encarnação, eu queria vir com uma voz igualzinha a do Guy Garvey. Céus! Ouso dizer que o principal mérito da banda é o vocal do moço, o que não torna nada do todo menos impecável. Destaque para "Lippy Kids", "Open Arms" e "Dear Friends", três das canções que fazem a gente pisar nas nuvens nesse novo álbum.





5 - Wilco - "The Whole Love"

Wilquinho do meu coração lançou seu álbum novo em versão on line por alguns dias em formato "vinil virtual" pra gente poder ouvir antes de comprar (ou piratear, cof cof). Não dá pra dizer muita coisa, não! Desculpa aí, patrão da Rolling, mas esse é daqueles que você ouve do começo ao fim, pedindo pra eles nunca mais deixarem de existir. Destaques? Tá bom: "I might" virou meu ringtone. E a faixa do link abaixo, "Sometimes It Happens", é fueda! Tecnicamente falando: caras, eu amo vocês!




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4 - Marcelo Camelo - "Toque Dela"

Coisa mais linda da carreira solo do (ex?)vocalista do Los Hermanos, Marcelo Camelo, é perceber o que era mais "dele mesmo" dentro da banda, uma discussão bem clichê sobre bandas e posteriores carreiras solos, etc, mas ok! Se por um lado se mantém os metais  e a mistura de  ritmos brasileiros com o rock, característicos dos hermanitos, o charme nas composições deste segundo album solo de Camelo, está no fato de assumir o tom romântico das letras por meio de seus sussuros deliciosos e do dedilhado suave nas cordas. Leva também o prêmio de álbum mais "O Amor é Lindo" do ano!





3 - Beirut - "The Rip Tide"

Ainda na categoria "bandinhas do coração que lançaram album novo esse ano" (vide Wilco) tem o terceiro álbum dos meninos do Beirut: coisa linda de Deus, viu?! Aprofundando a pesquisa sobre as sonoridades do leste europeu, a mini-orquestra-indie-folk com a condução e o vocal sublime de Zach Condon faz bonito de novo. Difícil destacar alguma faixa, pois o álbum na íntegra é impecável. Senta no tapete, abre um vinho branco e vai que vai! Aqui vai o clip de "Santa Fé", faixa que leva o nome da cidade natal do vocalista, no Novo México (desculpa, eu leio o google!).






2 - Marcelo Jeneci - "Feito pra Acabar"

Lançado no final de 2010, o lindo álbum de Marcelo Jeneci emplacou  bonito em 2011. Merecido! Depois diversas colaborações com  artistas  como Arnaldo Antunes, Chico César e José Miguel Wisnik, o paulista de 29  anos comemora com seu primeiro álbum, mais de 10 anos de estrada como  músico profissional. O resultado é um album autoral, refinado, e com o  vocal aveludado do moço na companhia constante (e ótima!) de Laura Lavieri, e é claro: o acordeon, peça fundamental de seus arranjos. Fica aí a minha preferidinha do álbum...





1. The Decemberists - "The King is Dead"

O álbum novo dos meninos mais inspirados do indie-folk-norte-americano foi lançado em janeiro e não deu outra no meu fone de ouvido ao longo do ano. Das mais animadas como "All Arise" e "Rox in the Box" até as melódicas como "Dear Avery" e "Rise to Me" (abaixo no link em versão ao vivo), a banda colocou na roda o melhor álbum do ano, para o humilde dono desse blog. Violinos, acordeon, guitarras, baixo, teclados, e vocais impecáveis em uma mistura inspiradíssima nesse sexto album da banda, que traz um rock enraizado em uma das poucas tradições bonitas da terra do Tio Sam (desculpa, sou preconceituoso!). Álbum do ano! Lindo, lindo!






MENÇÕES HONROSAS:

- I´m From Barcelona - "Forever Today" [Link para a faixa "Charlie Parker"]
- Gal Costa - "Recanto" [Link para a faixa "Autotune Autoerótico"]
- R.E.M - "Collapse Into Now" [Link para o videoclipe da canção "ÜBerlim"]
- Adele - "21" [Link para a faixa "Set Fire to the Rain"]
- Radiohead - "The King of Limbs" [Link para o álbum completo]
- Thaís Gulin - "ôôÔÔôôÔôÔ" [Link para a faixa: "Ali Sim Alice"]
- The Baltucz Band - "Café com Guitarra"[Link para a faixa "Junho"] 
- Fleet Foxes – "Helplessness Blues" [Link para a faixa "Helplessness Blues"]
- The Drums - "Portamento" [Link para a faixa "Money"]
- Mapuche - "Sancity" [Link para a faixa "Lullaby"]

29 de dezembro de 2011

Os Melhores Filmes de 2011 - Última Parte

 
por Malcon Bauer,
aquele que é polêmico, polêmico... e polêmico!

 
Ele diz: "Olha só: Eu estou falando dos filmes LANÇADOS NO BRASIL em 2011!!!"



10 - Contágio (Contagion)

Um filme terror. É isso mesmo. É com medo e tensão que acompanhamos uma série de personagens (performances notáveis de Kate Winslet, Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Marion Cotillard, Jude Law e Lawrence Fishburne) e a forma como lidam com o surgimento de uma epidemia incontrolável e mortal. Uma maçaneta torna-se objeto de repulsa e apertar as mãos é um ato de coragem. Steven Soderbergh conduz esta narrativa de maneira clínica e documental, com uma frieza que torna tudo ainda mais incômodo.  E o melhor: sem receio de matar qualquer personagem de seu elenco estelar.


9 - Bravura Indômita (True Grit)

Os irmãos Coen criam um faroeste  com sua marca de bizarrice e bom humor. Jeff Bridges arrasa como um federal bêbado e cínico que topa ajudar um jovem (a ótima Haille Steinfeld) a vingar a morte do pai. Belamente fotografado e muito divertido, o filme descontrói o mito do “herói do faroeste” sem deixar de homenageá-lo com carinho.


8 - X-Men : Primeira Classe (X-Men : First Class)

Sempre tive vontade de conhecer o início da amizade (e posterior inimizade) de Magneto e do Prof. Xavier. O filme nos apresenta os personagens ainda jovens e voluntariosos, e é ótimo acompanhar a descoberta de suas responsabilidades em meio aos anos 60. A direção de arte combina com perfeição o heroísmo e um aura meio cafona dos cenários e figurinos. O ótimo elenco também contribui para este que é o melhor filme de HQs do ano.



7 - Planeta dos Macacos – A Origem (Rise of the Planet of the Apes)

O anúncio do prequel da série símia me deixou com o pé atrás, mas mordi a língua. Tenso, bem conduzido e inteligente, o roteiro do filme acerta ao tornar o macaco César tão humano para nós que, ao final, é impossível não simpatizar com sua causa. Tudo graças ao magnífico trabalho de Andy Serkis. Cinemão da melhor qualidade.

6 - Amor à Toda Prova (Crazy Stupid Love)

A prova de que comédias românticas podem ser fantásticas se tiverem: a) Um ótimo roteiro, repleto de referências inteligentes e boas reviravoltas; b) Um elenco incrível, que conta com Julianne Moore, Steve Carell, Ryan Gosling e Emma Stone; c) Uma piada envolvendo Julianne Moore e a saga “Crepúsculo” (tá, isso engloba as letras a e b, mas eu queria falar disso aqui). Um filme delicioso, que não perde o humor no terço final (pra mim, o pecado mortal das comédias românticas).

5 - O Palhaço (idem)

A segunda incursão de Selton Mello como diretor é delicada e tocante.
Uma história sobre o “fazer rir” que consegue, além disso, fazer chorar e refletir. Um elenco de apoio fantástico que conta com Paulo José, Moacir Franco e Fabiana Carla coroa esta belíssima obra.

4 - A Pele que Habito (La Piel que Habito)

Almodóvar envereda pelo cinema de terror neste filme genialmente bizarro. Uma história doentia que conta com uma interpretação assustadora de Antonio Banderas no papel de um Frankenstein moderno. Almodóvar nos conduz de maneira brilhante por uma narrativa repleta de reviravoltas incríveis que nos deixam o queixo caído. E Marisa Paredes... é um bafo!



3 - Cisne Negro (Black Swan)

Natalie Portman reina como a bailarina que, em busca da perfeição, entra numa espiral de loucura e horror. O diretor Darren Aronofsky nos conduz com maestria pela deturpada cabeça da protagonista num filme tenso e impactante. Mila Kunis também brilha, bem como a excepcional Barbara Hershey. Terminei, literalmente, sem fôlego.


2 - Melancolia (Melancholia) 

Lars Von Trier entrega seu melhor filme desde Dogville. O fim do mundo está chegando, e o diretor aproveita para mostrar seu ponto de vista sobre a culpa, revolta e a aceitação de nossa própria mortalidade e pequenez. Trilha sonora fantástica (quem não viu no cinema perdeu!), imagens acachapantes e interpretações maravilhosas de Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg. Por mim, Von Trier pode continuar dizendo as besteiras que quiser em suas coletivas.


1 - Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris)

O mais incrível filme de Woody Allen na última década  é uma deliciosa viagem no tempo e na imaginação. Um elenco espetacular e um roteiro de uma simplicidade genial são nossos guias pela Paris dos sonhos de um escritor em crise. Uma preciosidade que discorre de maneira certeira a insatisfação das pessoas com seu próprio tempo. Será que a melhor época foi sempre aquela que já passou? O Que Hemingway diria sobre isso?



MENÇÕES HONROSAS:

Tudo Pelo Poder (Ides of March)
Missão Impossível – Protocolo Fantasma (Mission: Impossible – Ghost Protocol)
A Árvore da Vida (The Tree of Life)
Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses)
Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole)
Gigantes de Aço (Real Steel)
Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim Vs. The World)

27 de dezembro de 2011

Os Melhores Filmes de 2011 - Parte 2

por Renato Turnes,
ator, meu diretorzim querido, e membro do Biguaçu Film Critics Circle

Ele diz: “Foi um ano medíocre nas salas de cinema de nossa cidade. Pensei, pensei e não encontrei 10 filmes. Com certeza alguns bons filmes eu realmente perdi. E não curto ver filmes novos no computador. Mas esperamos que a reabertura do Cinema do CIC amplie nosso horizonte de apreciação, porque só a programação dos cinemas de shopping, é muito limitante.”



09- Cisne Negro
O filme de Darren Aronofski, que só estreou no Brasil em 2011, pretende ser complexo ao abordar a relação entre realidade, representação e esquizofrenia na figura da frágil bailarina obcecada por um papel. Por esse objetivo ela vai gradativamente rompendo seus limites físicos, morais e psicológicos, invadindo a linha da sanidade na busca por uma perfeição idealizada. Com um quê de Repulsa ao Sexo este poderia ser um incrível filme de terror, mas parece que o diretor resolveu evitar essa classificação, contendo-se na execução e evitando a vitória do medo sobre a metáfora. Talvez ele achasse o gênero redutor para a “obra de arte” que queria engendrar. E talvez essa indecisão de tom faça com que o filme perca impacto conforme ele amadurece na nossa memória, e hoje não seja tão incrível quanto foi quando saímos da sala de cinema. De qualquer forma, como um “suspense grotesco”, Cisne Negro ainda é um filme acima da média, criativo, forte e envolvente.

08- Planeta dos Macacos: origem
Puro entretenimento de fino trato, a nova leitura para o tema clássico sci-fi, espécie de “começo de tudo”, guarda a ação grandiosa para o último ato. Ao longo da projeção vemos incríveis efeitos especiais que nunca se sobrepõem à história. Ao contrário a técnica impressionante está intrinsecamente ligada ao roteiro, colaborando para a credibilidade total que o filme provoca. Metáforas políticas, questionamentos sobre o poder da ciência e da indústria farmacêutica e até discussões sobre a família fazem com que Planeta dos Macacos transcenda o nível da bobagem e seja diversão inteligente e emocionante, como eu acho que deve ser.  A melhor sessão pipoca no cinema em 2011.

07- Blue Valentine 
A premissa desse filme é simples e direta: o que acontece quando o amor acaba? Seu grande mérito é a negação ao melodrama e ao romantismo hollywoodiano e a ausência de julgamento moral/ético/afetivo em relação aos protagonistas. Ninguém tem culpa, ninguém está errado, ninguém sofre mais que o outro. Simplesmente acaba. O que antes fazia com que o outro fosse encantador e desejável, agora é o que o torna insuportável.  Oposto absoluto de uma comédia romântica, o filme é uma tese sobre a ilusão do príncipe encantado e da cara-metade.  De um realismo incômodo, os improvisos dos atores conferem a verdade necessária para a identificação (ou repulsa) com os protagonistas. Infelizmente essa opção deixa a encenação por vezes frouxa e o andamento da trama sai um pouco prejudicado. Mesmo assim Blue Valentine é um pequeno filme inesquecível para quem algum dia deixou de ser amado.

06- Elvis & Madona
Puxando sardinha pra minha lata, já que eu estou nesse primeiro longa de Marcello Laffitte, sou obrigado a dizer que amei o filme. Corajoso, livre e divertido, Elvis e Madona carrega aquele clima delicioso e ousado que andou se perdendo no cinema brasileiro. Ainda mais que é filme brasileiro sem Globo Filmes, de orçamento apertado e muita paixão envolvida. Comédia com elementos de drama e policial, bem orquestrados pela direção segura de Laffitte e pela entrega total dos protagonistas. Além, é claro, do divertidíssimo elenco de apoio (ai, desculpa gente!). Sem intenção de reinventar o cinema, o filme usa o formato batido da comédia romântica pra comunicar-se de maneira genuína com o espectador. E a confusão das identidades sexuais, a graça da vida em Copacabana, o roteiro cheio de ritmo, a consagração com uma avalanche de prêmios mundo afora... Orgulho total.


05 - Melancolia
Confesso que às vezes eu desconfio de Von Trier. Ele parece um embusteiro manipulador que constrói seus filmes com aquele realismo hiperbólico e paradoxalmente artificial, nos quais não se enxerga a motivação exata, o porquê de sua existência. Um impostor talentoso que nos engana como um ilusionista de feira. Mas chego à conclusão que é justamente isso que causa o estranhamento de sua obra e o torna um criador único. É assim em Melancolia, um filme catástrofe narrado por um ponto de vista íntimo. Quando duas irmãs vividas por atrizes gigantes esperam o fim do mundo nos perguntamos sobre a razão de viver. É pretensioso, cético e inconsequente: a cara de Von Trier. Mas no fim das contas gerar no espectador uma pergunta como essa não é pouca coisa. 

04- Rabbit Hole

Num tempo que a indústria americana se concentra em produzir filmes para adolescentes (ou para adultos que pensam como adolescentes) é um prazer raro encontrar um filme como esse no cinema do shopping. Adulto e triste, o filme de John Cameron Mitchell consegue a proeza de revelar a atriz sensível que andava se escondendo por trás do botox de Nicole Kidman. Da origem teatral do texto o diretor mantém a tensão baseada nas ações dos atores, economizando artifícios e se concentrando nos diálogos que conduzem a lenta evolução dramática dos personagens. Um filme sobre o luto, no qual, ao contrário do equivocado título concedido pela distribuidora brasileira, ninguém reencontra felicidade alguma.


03- O Palhaço 

O risco, a dúvida, a inadequação. Aquela sensação de não pertencer, de não ter nada e não ser ninguém. A vida em troca de um sorriso rasgado, ou de uma lágrima sincera. Cambalhotas em troca de pão. O Palhaço é sobre o destino inevitável de ser artista. O filme de Selton Mello caminha em seu compasso marcado, de encenação rigorosa mas leve, e segue diretamente rumo aos nossos corações. A história é delicada e o elenco é inusitado, escolhido com surpreendente inteligência. Uma história que nos religa com uma tradição ancestral e nos recorda que somos todos, lá no fundo, saltimbancos.  E quando acaba a projeção resta-nos na memória a imagem de Paulo José, ator sublime, com seus olhos cheios de emoção e juventude nos dizendo o tempo todo que a arte transcende a materialidade do corpo físico. Bravo!


02- A Pele que Habito
Um Almodóvar diferente em muitos aspectos: da direção de arte clean à frieza da narrativa principal e do próprio espírito do protagonista. Ainda assim continua lindo de se ver. No roteiro, misto de thriller psicológico e filme de monstro, o que se chama de “identidade sexual” é mais uma vez triturada e reconstruída num surto de encenação. O melodrama, gênero que consagrou o enfant terrible espanhol, aparece apenas como uma espécie de autocitação, abrindo espaço para uma atmosfera chique e perversa. Seus personagens continuam abismos de afetos proibidos e corpos transformados, conduzidos pela visão impecável de um esteta.

01- Meia Noite em Paris
 Ao retomar o estilo fantasioso de A Rosa Púrpura do Cairo, Woody Allen faz o filme dos sonhos pra quem gosta de cinema. O roteiro perfeito, a beleza de Paris, os personagens deslumbrantes que vão surgindo aos poucos, como presentes que alegram nossa alma e nos fazem suspirar, compõem uma experiência cinematográfica rara. Nostálgico sem ser melancólico , engraçado sem ser leviano, inteligente sem ser aborrecido, o cineasta consegue a proeza de ser ao mesmo tempo leve e pungente, numa demonstração inquestionável de domínio técnico, narrativo e estilístico. Meia Noite em Paris é uma obra-prima que nos deixou a todos em estado de graça.

24 de dezembro de 2011

Os Piores Filmes de 2011


por Malcon Bauer, 
ator, roteirista, filho do dono do blog e repórter do Diário de Agrolândia







10 - Burlesque

O “Showgirls” de 2011. Um filme cafona e ridículo estrelado por Cher e Cristina Aguilera, será adorado futuramente (provavelmente por mim, inclusive). Mas agora... é apenas péssimo!







9 - Sem Saída

O veículo de ação para Taylor Lautner (“Crepúsculo”) é um filme sem ação e sem carisma. E nem vem me dizer que botar Sigourney Weaver e Alfred Molina em um par de cenas ajuda...

8 - Cowboys e Aliens

Uma ótima idéia que resultou num filme frouxo e sem graça. Começa bem, como um legítimo faroeste. Harrison Ford está ótimo como um personagem politicamente incorreto. Mas quando os aliens aparecem, tudo vai para o espaço.

7 - Carros 2

E a Pixar errou feio. Se o primeiro “Carros” não era uma obra-prima, pelo menos tinha um conceito original. Agora, repetir a idéia só porque vende brinquedos é uma pena. 

6 - Lanterna Verde.

Taí uma lição de como NÃO se fazer um filme de super-herói. Protagonista sem carisma, efeitos em excesso, roteiro ridículo e falta de alma mataram qualquer chance do personagem virar uma franquia.

5 - O Turista

A reviravolta mais inacreditavelmente idiota do ano coroa esta super-produção pretensiosa e vazia. Johnny Deep repete os maneirismos de Jack Sparrow e Angelina Jolie faz muito, mas muito beiço. 

 


4 - Cilada.Com

O programa de TV era ótimo. E tudo que ele tinha de irreverente e inovador se perde neste filme péssimo, apelativo e sem graça. E ninguém merece a nudez de Sérgio Loroza por tanto tempo em cena... Deus me livre.



 


3 - Caça às Bruxas

O novo penteado (digo, filme) de Nicolas Cage é idiota, anacrônico (seria um sucesso nos anos 80) e estúpido. Alguém precisa fazê-lo parar de aceitar qualquer roteiro que jogam na sua porta.

2 - Transformers 3

Um pouco melhor que o segundo (o que não significa muito), este filme é um pesadelo em forma de 3D. Uma trama absurda alongada por desesperadoras duas horas e meia quase me fizeram cometer suicídio.


1 - A Saga Crepúsculo – Amanhecer: Parte 1

Chamaram um bom diretor (Bill Condon, de “Kinsey”) pra dar dignidade à franquia. Não funcionou.  Tentando ser um filme “dramático”, a primeira parte desta conclusão de uma das sagas mais ridículas da década é constrangedora e brega... muito brega.






Menções Horrorosas:

Noite de Ano Novo
A Vida dos Peixes
Bruna Surfistinha
A Antropóloga
Professora sem Classe
Um Novo Despertar

20 de dezembro de 2011

Os Melhores Filmes de 2011 - Parte 1

por Vicente Concilio, ator, arte-educador, e loiro natural!


Diz ele: "2011 se foi e dele não restaram nem 15 filmes incríveis"... 








10. O primeiro que disse



Intrigas familiares e contratempos cômicos fizeram desta comédia dramática uma das mais emocionantes e divertidas sessões de cinema do ano. Herdeira da melhor tradição dos filmes cômicos italianos, o filme extrapola os clichês do gênero com um sabor especial, diante da qualidade dos atores e do roteiro engenhoso e emocionante. Família e macarrão. A síntese da alma napolitana.





09. Itamar Assumpção: Daquele Instante em Diante

Da série de documentários “Iconoclássicos”, patrocinada pelo Itaú Cultural, veio o grande filme nacional de 2011. Claro que, para um documentário, partir de um tema genial já é uma premissa ótima, mas o filme supera seu protagonista  e nos revela, por trás do grande artista, o pulso trangressor do músico genial. 

08. X.Men: First Class

Da mitologia dos super-heróis, o que há de mais interessante é conhecer a origem de seus poderes e de suas motivações . Por isso, é muito melhor assistir ao primeiro filme de qualquer franquia e desistir do resto (com honrosa exceção ao Batman do Christopher Nolan), a não ser que haja prazer em testemunhar a capacidade hollywoodiana de destruir tudo por conta do dinheiro. Neste First Class, ótimos atores em roteiro enxuto nos apresenta a matriz das desavença vital entre Magneto e Dr. Xavier, enfeitados pela presença gélida de January Jones como Emma Frost.


07. Blue Valentine


Mais um da série: “jamais repetirei o nome do título criado no Brasil”. Este foi o ano de Ryan Gosling , que emplacou 4 filmaços em gêneros distintos e provou que, além de ótimo ator, sebe escolher seus roteiros como ninguém. Aqui, ele e Michelle Williams expõem sua vulnerabilidade a serviço de um roteiro que é, de fato, uma das mais tristes histórias de amor já filmadas. Longe de explicar as razões que levam ao fim do amor, o roteiro, construído a partir de cenas improvisadas pelos atores (com tudo o que isso tem de cru e sensível) é um belíssimo testemunho de nossas contradições como amantes. Lindo.




06. Contágio

Steven Soderbergh dirige com prazer contido este filme que disseca o possível impacto social e político, em nível mundial,  da morte de milhares de pessoas graças a um vírus altamente contagioso. Como um enciclopedista, ele compõe um mosaico das diferentes instituições e suas relações com o fato, provocando terror pela óbvia certeza de nossa vulnerabilidade, que fica ali, escancarada, enquanto médicos, políticos, jornalistas e cientistas tentam lutar contra o tempo e contra um monstro invisível e letal.
  
05. Another Year


Mike Leigh dirige mais esse panorama de pequenas tragédias cotidianas,  com a honestidade que lhe é habitual e nos entregando mais um filmaço que dá a impressão de ter sido feito em um dia, mas que na verdade é produto  de um trabalho contínuo junto aos atores na composição dos personagens e da história. O resultado desse método é uma batalha de ótimas interpretações, com destaque para a atriz Lesley Manville, que simplesmente arrebata como a frágil e problemática Mary.







04. A pele que Habito.

Dessa vez o genial Almodóvar, interessado nos limites e na potência daquilo que nos conforma, o nosso corpo, produziu uma obra-prima doentia e bizarra cujo resultado é, no mínimo, perturbador.  Parte da discussão do corpo e da ciência (seu protagonista é um cirurgião plástico) para, em verdade, aprofundar nesse seu longo estudo sobre os impulsos humanos. E sem tecer julgamentos, sem mocinhos ou vilões.


03. Meia-noite em Paris



O mestre Woody Allen mais uma vez atingiu aquela densidade peculiar  que só ele é capaz de construir e que é sua marca autoral. Transitando entre o absurdo e a comicidade que isso carrega, ele nos carrega para a Paris de nossos sonhos e recorda, com leveza até infantil, que nosso melhor tempo é agora.  E Kathy Bates como Gertrude Stein depõe muito a favor do filme.








02. Cópia Fiel

Daquilo que amamos em “Jogo de Cena”, de Eduardo Coutinho, esse mistério sobre a verdade da representação, é a matriz desse filme genial. Juliette Binoche está sempre impressionante como a mulher que embarca em um jogo de representação com Julian Schimmell. Um filme impressionante, que discute a própria natrureza da ficção de forma sublime.

01. Melancholia

Mais do que uma alegoria sobre o fim do mundo, uma grande reflexão sobre a capacidade de nossa mente em criar realidades. Mais aterrorizante que sermos atingidos por um planeta, é o próprio extermínio gerado pela nossa capacidade de criar estados de alma letais. Lars Von Trier fez o filme mais impressionante do ano, com todo o rigor que lhe é peculiar e com o domínio que um grande cineasta tem dos recursos técnicos cinematográficos. Mais do que isso, soube manifestar de forma clara e interessante seu ponto de vista sobre a humanidade, apoiado no delicado trabalho de Kirsten Dunst, em contraste com a histeria crescente de Charlotte Gainsbourg.

18 de outubro de 2011

O galã da novela não fuma mais


Você precisa ser cristão, ter uma esposa graciosa e de bons modos. Não fale palavrão, por que é feio. Apareça numa roda de gente interessante e mostre o quanto você conhece os assuntos do momento. Faça muita pose (sempre funciona). Seja um super-herói, nunca chore em público, e não fale dos seus defeitos. Não namore alguém vinte anos mais novo (vão falar mal, é fato). Compreenda que "homem + mulher + amor = família, o bem maior no mundo encantado do PSC. Não acenda um cigarro, pois a polícia do fumo pode te pegar. Se você for uma pessoa pública, então, pior ainda: a imprensa vai te fotografar escondida atrás de um arbusto, como se você é que estivesse se escondendo para curtir seu hábito monstruoso e insalubre. Nas novelas nem os vilões fumam mais, pois isso não é bonito. Bonito abusar do corpo nu em troca de uns pontinhos na audiência. Bonito é encher as tardes de sensacionalismo e as noites de desgraças repetidas em câmera lenta. 

Saudade de quando havia algum bom motivo pra ligar a TV. Saudade de quando o humor politicamente incorreto era genial como na TV Pirata e não apelativo como nos montes de baboseiras que o Rafinha Bastos fala pra criar polêmica e autopromoção. Saudade do Fagundes, o galã de "Vale Tudo", dizendo um bom texto com um cigarro na mão.

E assim, a gente vai engolindo os bons modos da família cristã e o humor imbecil de gente que acha que está sendo crítica, como se tudo isso não fosse a mesma merda: cabeça vazia e muito verbo. Não tem pra onde correr: ser careta e medíocre virou a grife do momento. 

4 de outubro de 2011

Leãozinho

Tá, achei um fiasco a Diana Krall cantando em português esses tempos, e em geral acho péssimo mesmo. Mas Beirut Caetaneando a gente tem que aceitar. Coisa fofa essa versão, gente!

11 de setembro de 2011

"O Reencontro de R.E.M. e Patti Smith" ou "Ai que emoção, Amaury!"

Coisa linda de Deus é a parceria entre R.E.M. e Patti Smith, viu?! Em 1996 eles gravaram "E-Bow The Letter", primeiro single do album "New Adventures in Hi-Fi", e agora, no album novo "Collapse Into Now" (lançado em março), cá estão eles repetindo a parceira no 15o. album da banda, 15 anos depois... Obrigado, papai do céu!

6 de setembro de 2011

Bandinhas do Coração

Depois do album novo do Beirut, "The Rip Tide", lançado esse ano, outra das minhas bandas preferidas acaba parir album novo. Tô falando dos meninos do Wilco, que lançaram na semana passada o album "The Whole Love", disquinho coisalindadeDeus do momento. Acabei voltando no tempo aqui, ouvindo as canções dos outros albuns, fazendo trilha sonora dos dias gostosos de edredom, e lembrei do quanto eu gosto dessa "Radio Cure", na versão deles e na de outra banda supimpa: "The Bad Plus". Pra quem gosta de uma releitura é um prato cheio. Aí vai:



31 de agosto de 2011

Tem ator saindo pelo ralo! Corram para as montanhas!



Quando eu era pequeno, e estava compenetrado em afazeres de criança, aqueles sempre urgentes e importantíssimos, como salvar um gatinho no telhado, descobrir como funciona uma batedeira, ou brigar por causa de um he-man, ou algo do gênero, vovó já dizia: “está fazendo arte, né menino?”... uma concepção meio católica de arte, esse negócio misterioso que foge dos padrões dos bons modos e da moral, um tipo de pensamento que deve ter ajudado (e muito) a criar essa ideia de que artista é tudo "porra-louca". Se naqueles tempos você perguntasse pra minha avó "o que é arte?", ela ia dizer que "arte é bagunça".

Além disso, costuma-se usar o termo "arte" para tudo: “ a arte da conquista”, "a arte da malandragem”, “a arte da gastronomia”, “a arte da boa fala”, “a arte do futebol”... Encontrar parâmetros concretos para definir o que é ou não arte sempre foi algo muito complicado (e às vezes, insalubre). Se tudo é arte, minha avó estava certa: virou bagunça mesmo!

Também as definições sobre "o que é um ator" caíram nesse lugar onde cabe tudo. Com algumas discussões que vem da psicanálise (a qual o teatro deve muito, mas isso é um outro assunto mais extenso) e outras tantas reflexões que se apropriam de princípios dramáticos para falar sobre o quanto nossa vida é permeada pela atuação, a discussão sobre a representação na “vida real” se tornou cada vez mais presente. Basta pensar nos rituais cívicos, como cerimônias de casamento, ou nas festividades como o carnaval (no qual a representação é permitida em seu extremo por alguns dias), que a gente vai percebendo o quanto o assunto é delicado. Mas, me desculpem: é sempre irritante ter que ouvir alguém dizer “todos nós somos um pouco atores”. Tudo bem! Todos nós representamos no cotidiano, logo, somos atores de uma situação, o que não significa ser um ator como artista

Depois que a sociologia resolveu – talvez até por motivos muito nobres – usar o termo “ator social”, a vida de um ator de profissão virou uma quizumba! Todos atuam socialmente, é verdade. A própria etimologia da palavra "atuar" diz respeito a agir, realizar, colocar em movimento... Mas, como distinguir esta atuação do cotidiano da atuação artística? Uma saída seria pensar que o ator de profissão lida com a ficção, com atos inventados por algum autor ou por ele próprio, e o ator social não, mas em tempos de reality show quem seguraria a onda com esta discussão? Como pensar esta distinção entre ator-artista e o ator-social, uma vez que a própria arte e a profissão de artista hoje cabe a qualquer um. Em Santa Catarina você pode fazer uma prova banal no SATED e pagar cerca de duzentos reais, e pronto: você é um ator com carteira assinada! Não vou nem citar os atores-modelos-dançarinos-cantores que surgem como se saíssem pelo ralo, pra discussão não ir muito longe! Além de todo mundo ser ator, todo mundo é artista! A profissão “ator”, assim como a noção de “arte” virou uma bagunça!

Quem nunca presenciou uma aula em que alguém inventa de discutir o conceito de arte? É uma sessão-troca-tapas divertidíssima. Você ouve: “arte é aquilo que se comunica com o público!”, até que alguém grita do fundo: “então a Xuxa é artista?”. Ou então que “arte é aquilo que revela os sentimentos mais profundos de alguém”, e outro grita mais alto: “terapia também faz isso!... então, terapeuta agora é diretor?”. Não tenho a pretensão de chegar a um conceito apropriado pra arte (sério, você veio ao lugar errado!), pois, apesar de ter minhas opiniões sobre o que seria ou não arte, acredito que são assuntos da minha cozinha, e das minhas cervejinhas com os amigos mais próximos. Já perdi a paciência de distinguir atores de verdade de atores-que-saem-pelo-ralo. Já perdi a compostura discutindo o que é arte ou não. Já não tenho mais idade. Então você se pergunta: “porque raios ele escreveu isso aqui?”. E eu respondo: Não faço a menor idéia. Hoje ando mais amigo dos pontos de interrogação e das reticências. E vivo achando que o que eu escrevo ficou por ser terminado. As coisas vão virando uma bagunça na cabeça. Vovó diria que estou fazendo arte!

29 de agosto de 2011

Manual para amores estéticos



Não idealize o tempo dos abraços e o desenho dos afetos. Deixe eles seguirem o caminho que há de ser. Não dirija uma encenação na sua cabeça. Deixe os outros atores criarem seu próprio texto e jogue com eles. O processo criativo disso que inventaram chamar de amor revelará a função de cada sujeito. Calcule apenas o uso das falas (elas podem ser mal compreendidas, inclusive por você). É importante que os candidatos ao ofício não tenham muitas opiniões a respeito de sua função no processo. Lembre-se, caro aspirante: o espontâneo é prioridade. Não balize o conceito de amor pelo que sente pelos seus amigos (os caminhos são distintos e ninguém explicou isso no colegial). Não espere redes de proteção, pára-quedas nem seguros de vida. Contente-se com o que é verdadeiro na dramaturgia (com o tempo os pequenos atos serão de um tamanho satisfatório na memória). Espreguiçamentos conjuntos sem horário para acabar, silêncios desconcertantes, olhares envergonhados, e palavras mal escritas no seu texto são aspectos da mais alta importância. Não acredite nos poetas: eles ficaram famosos por mentir para você (em primeira e terceira pessoa). Entre no barco com os dois pés (o máximo que pode ocorrer é uma estreia mal sucedida, ou uma temporada sem apelo de crítica). Amor, que é amor não afoga (mesmo que faça perder o ar). Separe apenas o que for levar na viagem. Não imponha o seu tempo para cada cena. Deixe as águas correrem sem criar barragens. Menos fé cênica e mais pé na tábua. Amor é algo que se reescreve sem decorar as falas. E o mais importante: não acredite em instruções sobre esse tema. Tudo se transforma.

10 de janeiro de 2011

Madame Zaira e as Previsões para o Cinema em 2011


por Vicente Concilio,
ator, loiro natural e médium nas horas vagas









1- Black Swann: Aronofsky, Portman e Barbara Hershey em um thriller psicológico com Lago dos Cisnes. Já é o meu filme preferido de 2011.


2. Somewhere: Sofia Coppola, a cineasta da solidão burguesa volta com tudo.

3. Rabbit Hole: Nicole Kidman como uma mãe superando a dor do luto em um filme de John Cameron Mitchell. Onde é a pré-venda mesmo?

4. La piel que habito: O novo de Almodóvar, marcando seu reencontro com Antonio Banderas.

5. Blue Valentine: Drama pesado e elogiadíssimo com Michelle Williams e Ryan Gosling, dois atores ótimos.


6. The Iron Lady: Meryl Streep é Margaret Tatcher. Sai de baixo.

7. The Tempest: Helen Mirren faz uma Próspera na adaptação que Julie Taymor faz da última peça de Shakespeare. Delírios visuais aos montes.


8. Melancholia: Lars Von Trier prometeu nunca mais finais felizes. Com esse título, vem chumbo grosso por aí.

9. Larry Crowne: Só eu devo estar ansioso por uma comédia romântica adulta com Julia Roberts e Tom Hanks.

10. Midnight in Paris: Marion Cotillard é a Musa do novo filme de Woody Allen.

11. The Tree of Life: Sean Penn é filho de Brad Pitt nessa saga familiar de Terrence Malick.

12. 127 horas: Quem quer ver o James Franco serrar o próprio braço no novo de Danny Boyle?


13. Contagion: Steven Soderbergh ai dirigir essse thriller apocalíptico sobre médicos e vírus letais com Kate Winslet, Marion Cotillard e Jude Law.

14. Another Year: Mike Leigh segue dissecando a classe media britânica e distribuindo prêmios
a seus atores.


15: A Dangerous Method: O mestre David Cronenberg disseca a relação de Freud e Jung e a fundação da psicanálise. Estréia logo, por favor!!!!!!!!!!

16. On the Road: Será que Walter Salles contém suas afetações e deixa o clássico de Kerouac virar também um clássico do cinema?

17. Gainsbourg (Vie Héroique): Pelamordedeus!!! O mundo já viu e disse que essa biografia de Gainsbourg e seus amores é imperdível!

18. O Discurso do Rei: Cotadíssimo ao Oscar, esse drama tem Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter (interpretando a rainha Elizabeth II).


19. Young Adult: Diablo Cody e Jason Reitman repetem a dose de Juno neste filme que tem a bela Charlize Theron como protagonista.

20. Never Let me Go: Mark Romanek ( o diretor de Rain, da Madonna!!!!!) em uma trama de amor impossível baseado em romance de Kazuo Ishiguro (Vestígios do Dia).

21. Red Riding Hood: Catherine Hardwicke, que dirigiu o primeiro Crepúsculo, mas antes havia feito o ótimo Aos Treze, transforma Amanda Seyfried em Chapeuzinho vermelho adolescente e pronta pra explorar os “mistérios da floresta”...

3 de janeiro de 2011

Os Melhores Filmes vistos em 2010

por Renato Turnes,

ator, diretor, e neto do Bela Lugosi



Caros leitores, tão tradicional quanto o peru Sadia e o CD da Simone, minha lista fílmica de 2010 do blog do Dani está aí. Lembro que ela não se refere aos lançamentos do ano, mas a filmes que vi ou revi, de qualquer época, assistidos em qualquer suporte (cinema, DVD, TV, download ilegal...) e que de alguma forma foram experiências significativas pra mim, sob vários aspectos. Não existe ordem de relevância e nem critérios muito definidos. Divirtam-se e opinem.



GIALLO, Dario Argento, 2009

Por que quem não gosta de terror não gosta de cinema.

Sou fã de Dario Argento, o influente mestre do terror italiano. Seus filmes são exercícios de estilo, de cenários coloridos, impressionante uso de movimentos de câmera, música poderosa e atmosférica (nos 70 compostas e executadas pelos progressivos góticos Goblin) e roteiros que quase sempre priorizam a lenta construção da angústia.

Os constantes assassinatos são gráficos, e notáveis pelo apuro técnico e criatividade mórbida de sua execução. Em Argento as mortes são inusitadas, às vezes patéticas, invariavelmente violentas. Giallo, seu longa mais recente, é de 2009 e protagonizado por Adrien Brody. É um suspense policial que carrega a marca inconfundível de seu artesão.

O roteiro, meio esquizofrênico, apresenta poucas revelações, o que demonstra que Argento nunca foi, e continua não sendo, um autor do estilo “redondinho”. Ao contrário a sensação de voyeurismo sádico que a obra provoca - e isso é característico do diretor - prende a atenção por si mesma, dispensando surpresas excessivamente narrativas e concentrando o suspense nas ações.

Os traumas de infância, mostrados a partir de flashbacks lindamente fotografados, são a base para a construção das motivações dos personagens, herói e vilão, ligados de alguma forma pelas dores do passado. O final é no mínimo irônico, mantendo a tensão pela via oposta a do clichê.

Interessante que giallo (amarelo, em italiano) se refere ao subgênero cinematográfico do qual Argento foi o mais alto mestre. Popular nos 70 e 80, o giallo se caracteriza pela perseguição a um serial-killer, assassino de mulheres, com mortes brutais antecedidas por perseguição, violência estetizada e algum nu. Geralmente o assassino só é descoberto no final e durante o filme vemos suas luvas pretas de couro apertando o pescoço das vítimas, ou outra solução semelhante.

Giallo, o subgênero, influenciou definitivamente o terror moderno. Giallo, o longa, é uma espécie de revisão tardia do movimento, realizada por seu mais importante autor.


OS SETE GATINHOS, Neville D’Almeida, 1980

Pela volta do peitinho no cinema nacional.

Ao adaptar a tragédia carioca de Nelson Rodrigues, Neville D’Almeida toca numa espécie de pornochanchada sofisticada, com atores excelentes e diálogos absolutamente memoráveis: Quem foi que desenhou caralhinhos voadores na parede do banheiro? (que não existe na peça original – lembre-se que Seu Nelson não escrevia palavrões) ou Me chama de contínuo! estão entre as falas incríveis dessa pérola nacional.

Destaque pra Regina Casé – engraçada, espontânea e magrela – e pro malandro carioca perfeito que faz o Fagundão. Adoro Telma Reston como a mãe sexualmente frustrada. Lima Duarte também dá show como o pai de família que ainda crê na pureza da filha caçula, vê sua fantasia ruir quando ela é expulsa do colégio por matar a pauladas uma gata prenha e acaba fazendo da sua casa um absurdamente amoral bordel de filhas.

O filme usa bem as seqüências de tom cômico, com cenas mais debochadas e soltas. Mas pesa a mão quando tem que pesar, criando imagens fortes e simbólicas em encenação rigorosa. E o roteiro, bem apegado à peça, se encarrega de encaminhar os personagens pro fundo do poço familiar, como era de se esperar.

Durante muito tempo, na minha cabeça, Os Sete Gatinhos era tudo de divertido que o cinema brasileiro poderia oferecer: safadeza, inventividade, graça, ator espontâneo, som meio esquisito. Hoje, com apuro técnico, preparador de atores, lei de incentivo e caretice pudica, eu tenho saudades da boca do lixo que não vivi.


ILHA DO MEDO, Martin Scorsese, 2010.

Porque é o que de melhor o cinema americano pode criar.

Acho ridículas as viúvas de Glauber, essas que só acham bonito filme que vem de país sem água potável, bradarem em alto e bom som que “não gostam de cinema americano”.

Somente uma cultura cinematográfica esplendorosa poderia engendrar um criador como Martin Scorsese. Um autor que mergulha em suas obsessões, banha-se em suas referências e dá a luz um filme profundo sem perder de vista a comunicação efetiva com o público. Insistentemente americano, nas referências ao cinema B de suspense dos anos 50, na decupagem precisa e emocional, no uso espetaculoso da música, na composição obscura dos personagens. Scorsese é um brilhante artista de sua cultura.

Em Ilha do Medo estão as obsessões da culpa e redenção características do melhor cinema feito pelo diretor. E numa encenação poderosa, puro espetáculo que se liga à força mítica da natureza como analogia para as tempestades de uma mente perturbada. Saí da sessão em estado de puro regozijo cinemático. Sinto-me feliz por acreditar em Di Caprio como adulto pela primeira vez e voltar a amar Scorsese e os grandes cineastas ianques, esses desgraçados dominadores do mundo.



ZUMBILÂNDIA, Ruben Fleischer, 2009.

Só porque é cool.

Pra mim esse terrir sem nenhuma pretensão foi a comédia do ano. Os caras pegam a mitologia zumbílica inventada por Romero e fazem um filme de aventuras engraçado, sarcástico e adorável, que já nasce cult.

A trama é simples: num mundo meio pós-apocalíptico dominado por zumbis um grupo de sobreviventes tenta não ter seus cérebros comidos por mortos-vivos desgraçados assassinos do inferno. O genial é como o roteiro tira onda de si mesmo, do gênero, da indústria do cinema e do mundo ao redor com precisão, timing e cara-de-pau absurda.

Woody Harrelson (que é cool!) faz o brutamontes que mata zumbis como mosquitos e só quer comer um bolinho em paz. Jesse Eisenberg (de A Rede Social, que agora é super cool) é o cagão necessário para viver uma jornada do herói. Tem ainda Abigail Breslin (que já era cool criancinha em Pequena Miss Sunshine).

Mas o mais cool de todos os cools do universo dos atores cools é ele: Bill Murray. Esse é o ator mais engraçado do mundo e faz toda a diferença em qualquer set que pise e no de Zumbilândia ele simplesmente arrebenta como... Bill Murray.

Corra pra ver, antes que o mundo acabe.


A SINGLE MAN, Tom Ford, 2009.

Por que filme não tem orientação sexual, quem tem é gente.

Eu amo os ternos de Tom Ford, acho o cara lindo, chic e talentoso. Mas dentro da minha mente pobre temia que o filme fosse um desfile de modas. Meu queixo e minhas barreiras ignorantes caíram durante a sessão de A Single Man (me recuso a citar o horroroso nome em português). Obviamente existe o bom gosto geral na direção de arte vintage, que poderia ser fútil não estivesse rigorosamente de acordo com o universo do protagonista e sua vida secreta de aparências. Tudo é lindo, limpo e organizado para esconder a bagunça das vidas interiores que se revelam na tela.

Emocionante a atuação de Colin Firth, e a cena em que ele recebe a notícia da morte do parceiro é de um virtuosismo de contenção e sofrimento que dói como faca em quem vê. Juliane Moore faz o contraponto perfeito como a amiga apaixonada e infeliz. Na formidável sequência em que os dois conversam, dançam, falam-se verdades intoleráveis, brigam e se reconciliam, os atores interpretam a síntese perfeita do que é a amizade.

Tom Ford demonstra nesse primeiro filme uma sensibilidade tocante para a criação da imagem, o ofício delicado da composição visual e da direção de arte, além de uma irresistível dedicação aos sentimentos dos seus personagens e ao trabalho de seus atores. A Single Man revela o talento surpreendente de um esteta.


CANIBAL HOLOCAUSTO, Ruggero Deodatto, 1980.

Por que um filme pode ser perigoso.

“- É absurdo! Como podem chegar a isso? Eu me sinto aviltado! Aviltado!” Só ouvir o meu flattmate e parceiro de incursões cinematográficas esquisitas Malcon Bauer bradar essas palavras indignadas, com seus lindos olhos verdes injetados, a pele alva rosada de vergonha, suor escorrendo pelas têmporas arianas, depois da sessão doméstica de Canibal Holocausto, já vale a experiência e inclusão desse filme na lista.

E pior que é isso mesmo. Aviltante, maldito, absurdo, imoral, louco, criminoso... de tudo já foi chamado esse filme mitológico, apelativo, proibido, obsceno e demoníaco que a gente comprou por 9,99 nas Americanas.

Filmado na Amazônia, o filme conta a história de quatro documentaristas sensacionalistas, que gostam de molestar povos selvagens e embrenham-se na selva para filmar indígenas canibais. Dois meses mais tarde, depois que o grupo não retorna um famoso antropólogo viaja em uma missão de resgate para encontrá-los. Ele consegue recuperar as latas de filme perdidas, que revelam o destino tétrico dos cineastas desaparecidos. Parece com A Bruxa de Blair e congêneres contemporâneos? Sim...e aí está o lado visionário da polêmica.

A excelente direção de Ruggero Deodatto (porque italianos fazem os terrores mais bizarros?) mescla a linguagem ficcional com a documental de forma perfeitamente fluente e crível, trinta anos antes da “inovação” de Bruxa de Blair. O que impressiona acima de tudo é a perversão dos personagens e a absoluta verossimilhança das poderosas cenas ritualísticas, que embrulham o estômago e a moral.

No fundo um filme sobre a maldade do homem branco, que fala disso através de doses pérfidas de canibalismo, morte ao vivo de animais silvestres, empalamentos, sexo sujo em ambientes fétidos (Gérson adora esse filme!), apuro técnico e a perturbadora mise-en-scene realista que fizeram a fama desse filme totalmente demente.

Desaconselhável para gestantes, cardíacos, bichinhas sensíveis e vegans.


PINK FLAMINGOS, John Waters, 1972.

Por Divine.

John Waters, o mestre underground da contracultura americana, tem aqui talvez seu vilipendiante apogeu criativo. O filme classificado pelo próprio como comédia/horror de baixo orçamento conta as aventuras de Divine e sua família disfuncional (as “pessoas mais sórdidas do mundo”) contra um casal de modernos marchands malvados da alta roda. Os vilões cometem atos sinistros como aprisionar e engravidar virgens e vender seus bebês para casais de lésbicas descoladas ou submeter a bela Divine a um tratamento com ácido que desfigura seu rosto e a transforma em pura “arte contemporânea”.

O filme é uma sucessão de cenas entre a escatologia e o deboche, embaladas por uma trilha sonora impagável. Na mais famosa delas, Divine desfila por Nova Iorque, em uma espécie de intervenção urbana, causando geral nohappening, e de repente, come cocô. (hihihihi, eu escrevi cocô, hihihi).

Ah Divine! Como não se apaixonar por essa diva esfuziante, musa inconteste, deusa udigrudi, toda linda, toda gorda, toda queer, toda descaradamente homem/mulher, a nos confundir neurônios e hormônios. Ela é a primeira e única rainha andrógina e híbrida, perigosa e subversiva, muito antes de Drag Queen virar essa coisa inócua de animar festinha infantil.

Numa cena de torcer nossos miolos ela é estuprada... por ela mesma, em sua versão homem. Oi? É muita metáfora gente.


DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA, Sidney Lumet, 1957.

Por que teatro e cinema podem dialogar sem ficar chato.

Um jovem porto-riquenho é acusado de ter matado o próprio pai e vai a julgamento. Doze jurados se reúnem para decidir a sentença, com a orientação de que o réu deve ser considerado inocente até que se vote o contrário, por unanimidade. Onze dos jurados, cada um com sua convicção, votam pela condenação. O jurado número 8 é o único que acredita na inocência do jovem e tenta convencer os outros a repensarem a sentença.

Experiência cinematográfica excitante pelos limites que a direção de Sidney Lumet coloca para a encenação, claramente definidos pela origem teatral do argumento: apenas 3 dos 93 minutos do filme acontecem fora da sala onde o júri está reunido, numa tour de force concentrada, sintética e completamente sustentada na performance dos atores.

E olha que estou falando de atores míticos, monstros como Henry Fonda e Martin Balsam, que atuam como esfinges de poder magnético.

Aos poucos, enquanto o número 8 tenta convencer os colegas de que as provas são insuficientes para condenar o jovem, as personalidades de cada jurado vêm à tona, estabelecendo um jogo arrepiante de revelações, medos, preconceitos e competições. É um retrato cruel e milimétrico da sociedade, visto pelos olhos do artesão impecável que foi Lumet.

Vale a pena olhar também a refilmagem para TV dos anos 90, com Jack Lemmon, que guarda as mesmas características do filme original, com ótimos resultados.


PIRANHA 3D, Alexandre Aja, 2010.

Por que às vezes só o que a gente quer é se divertir.

Eu não espero desse boom de filmes em 3D nada mais que parque de diversões. E na verdade isso é muito cinema.

Lembram como tudo começou? Eram projeções de coisas exóticas em feiras populares, no meio do engolidor de facas e da Monga, a mulher macaca. As pessoas queriam apenas assombrar-se, sentir medo do trem chegando, acreditar que existia gente negra em algum lugar de um continente distante. A origem do cinema foi assim, um novo brinquedo da feira, mágico e assombroso.

A tecnologia 3D de alguma forma resgata esse impulso popularesco e freak dos primórdios. Não espero mesmo ver um drama bergmaniano em 3D, mas que tal um pênis decepado, engolido e depois regurgitado por uma piranha monstruosa, num primeiro plano tão bem feito que parece que dá pra pegar (ui que nojo)?

Piranha 3D é assim, entretenimento puro, raso, trash (com dinheiro), engraçado, nojento, sexy, com peitinho pra todo lado, sem a mínima preocupação de ser levado a sério.

Os adeptos da cabecice que me perdoem, mas esse foi o 3D do ano, infinitamente mais legal que a Alice de Tim Burton. Simplesmente uma delícia.


FACES, John Cassavetes, 1968.

Porque eu amo os atores.

John Cassavetes trabalhava apenas com seus amigos, com pouquíssimos recursos e estabelecia com seus atores uma cumplicidade absoluta. Partia de um roteiro esquemático e inacabado e deixava os atores desenvolverem diálogos e improvisos, concedendo a eles o status de parceiros-criadores. Filmava com muitas câmeras tentando capturar a espontaneidade do momento em que a ação era criada, evitando repetições mecanizadas. A aparência de improviso das cenas é na verdade fruto de ensaios intensos e de uma delicada experiência no universo pessoal de cada ator/personagem.

Faces pode ser considerado a síntese desse esquema marginal de fazer cinema. É a história da crise em que mergulha a vida de um casal formado por um homem mais velho e sua jovem esposa. Por conta do estranhamento entre eles, ambos buscam outros relacionamentos. Ele com a prostituta vivida pela deusa Gena Rowlands, musa do diretor. Ela, numa noitada com amigas num bar, conhece um garoto de programa. Não há flashbacks para explicar o passado de ninguém, não há estudos motivacionais, não há discursos morais, não há nem propriamente uma fábula. Há apenas a câmera entrando cada vez mais fundo na alma dos atores. Em closes estupendos eles se revelam tão sinceros e entregues, imperfeitos e humanos.

Em tempos de intermediários entre direção e elenco, seria bom se os cineastas brasileiros voltassem seus olhos para Cassavetes, um artista que em seus filmes conseguiu extrair da sua relação apaixonada com seus atores um ritmo que é a própria vida.