20 de outubro de 2006

Reaberta a temporada de caça às bruxas...

Abaixo divulgo a carta do escritor e cineasta Fábio Brüggemann, exonerado de seu cargo na Fundação Franklin Cascaes (Florianópolis) por ter participado do longa Matou o Cinema e foi ao Governador.
A carta fala tudo:

"Meus amigos, meus inimigos (para lembrar Manuel Bandeira)

Ontem, em uma prática que julguei ter sido esquecida desde a ditadura, fui sumariamente exonerado do cargo de coordenador geral da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. Soube hoje, de fonte segura, que o prefeito Dário Berger atendeu a um pedido pessoal do candidato à reeleição, Luiz Henrique da Silveira, em represália àqueles que ousaram realizar um filme ( Matou o cinema e foi ao governador), feito para mostrar a incompetência (pública e notória) de sua gestão frente às demandas da classe produtora e artística do Estado. Ao invés de debater o motivo e conversar com a classe, o candidato usou da velha e covarde tática da caça às bruxas, e com a truculência que lhe é peculiar, sem sequer ter visto o filme, pediu minha cabeça.

Na última eleição para prefeito, quando deveria ter havido um debate entre os ex-candidatos a prefeito, Dário Berger e Chico de Assis, com representantes da classe artística e cultural, o senhor Dário Berger não pode ir, mas pediu ao escritor Péricles Prade que o representasse. Todas as propostas que o escritor apresentou no debate eram as mesmas que eu havia repassado a ele (a seu pedido), tirada de vários documentos (àquelas alturas já tornados públicos) compostos pela Frente em Defesa da Cultura e pelo Forum Floripa, movimentos representativos da classe artística e cultural da cidade e do estado.

Péricles solicitou, então, quando o prefeito se elegeu, que eu assumisse a coordenação geral (mesmo eu não pertencendo a nenhum partido) para auxiliar o superintendente da Fundação, senhor Vilson Rosalino, e o prefeito, a cumprir a promessa de campanha feita naquele debate, já que eu conhecia de perto tais reivindicações. Porém, alianças partidárias, vontade de permanecer no poder, interesses outros que não os públicos, aliado ainda a um desconhecimento do prefeito em relação à cultura, fizeram com que nada do que fora prometido fosse efetivamente cumprido. Editais de apoio, o Fundo Municipal de Cultura, uma política de estado, realização de seminários (nem mesmo o Festival Isnard Azevedo haverá neste ano, depois de mais de uma década de existência) nada foi feito, deixando-me, muita vez, constrangido, e, ao mesmo tempo, me sentindo tolo em acreditar que algum político tenha mesmo interesse em fazer da cultura uma prioridade.

E mesmo estando ciente de que o prefeito Dário Berger e o candidato a reeleição Luiz Henrique fizeram uma aliança, nunca deixei de ser crítico, seja em minha coluna no Diário Catarinense, seja nas minhas atividades como escritor e realizador de filmes. Tanto que, mesmo sabendo que poderia haver retaliações, participei com prazer (e o faria de novo) do filme supracitado. Ingenuidade, eu sei, porque acreditei que mesmo participando de uma gestão fosse possível ser crítico em relação a ela mesma. Assim se trabalha em equipe, em imaginava, seja para gerenciar cultura, seja para fazer um filme, como o que fizemos. Ainda mais que eu mesmo havia ajudado a conceber as promessas de campanha, de alguma forma.

Mas estes senhores não compreendem, ou se fazem de tolos, que a cultura permeia todos os gestos. Seja pela forma como tomamos o ônibus, seja pelo jeito como enterramos nossos mortos, ou na arquitetura das nossas casas. Cultura, para eles, é apenas aquilo que não os coloque em perigo. Por isso, é fácil mandar às favas alguém que questiona e pensa um pouco nestas questões. Por isto o orçamento é tão minguado, e quando não é minguado é distribuido de forma nada democrática.

Tão logo entrei na FFC, os jornais noticiaram que eu passaria de pedra à vidraça. Mas logo percebi como são tratadas estas questões, já que o coordenador de patrimônio da FFC, com anuência do senhor Vilson Rosalino, só para dar um exemplo, está lá apenas porque é cabo eleitoral do senhor Sérgio Grando, não porque seja um técnico da área, resultando, por exemplo, num abandono total da Casa da Memória, um dos centros de documentação mais importantes do Estado, e hoje sob os (des)cuidados da Fundação. Mas memória, para estes senhores, é coisa perigosa.

Não sinto por ter saído da Fundação, porque os governos passam e a arte fica. Sinto mesma pela forma como fui exonerado, sem conversa, sem debate, e por entender que, se fizeram comigo farão com qualquer um que ousar dizer que eles estão errados. Talvez eu tenha que pedir asilo em outro Estado, caso haja a reeleição mesmo, pelo menos durante os próximos quatro anos, mas ainda sonho que um dia teremos um classe mais atuante e unida, e um projeto público democrático para a cultura desse estado e dessa cidade, sempre à margem, sempre provinciana, sempre feita de balcão de negócios, sempre particularizada, nunca pública, mas com gente muito mais do que capacitada e talentosa para fazer cinema, música, teatro, literatura e tudo aquilo que em todos os outros estados é tratado com um pouco mais de zelo.

Só torno público uma questão aparentemente privada, porque quando entrei para a FFC o assunto também se tornou público. E mais uma vez, me desculpem por não ter conseguido – apesar de ter sido pago por um ano com o dinheiro de vocês – ter revertido esse quadro. De qualquer modo, tentei, internamente, várias vezes, emplacar o projeto que todos esperavam, que é acabar de vez com a política de governo para a cultura e transformá-la numa bela legislação, que atenda a todos, sem discriminação, e a transformando em uma questão de estado, que é patrimônio de todos, não meu, nem seu, nem do senhores Dário Berger e Luiz Henrique, porque o governos desses senhores, não tenham dúvida, um dia vai acabar. Mas o filme (ainda que possa não se gostar dele sob o ponto de vista estético, até porque não tem todo esse propósito) será minimamente lembrado como um ato de resistência à truculência, ainda que pequeno, mas corajoso, muito corajoso.


Abraços

Fábio Brüggemann"


18 de outubro de 2006

Mais uma da Vera Fischer...

E-mail ótemo que recebi do Asdrubal hoje ...

"Alguém sabe porque não está havendo divulgação na mídia das apresentações em Florianópolis e São José – dias 17 e 18/10/2006 - da peça "Porcelana Fina", protagonizada por Vera Fischer e onde foram investidos R$ 500.000,00 catarineses? Tanto dinheiro investido e nada de divulgação? Só aquela micro-nota no Diário de ontem? Não pode? Porque será?

Se forem procurar na internet verão que há grande divulgação das apresentações em Blumenau, Joinville e Itajaí. Nestas cidades, digamos, menos informadas, ou, mais cegas às vergonhas culturais deste governo, e onde a classe artística não se rebelou contra a pouca vergonha, as apresentações estão sendo tidas até mesmo como uma honraria concedida pela nobre filha do nosso estado! Pode?

O que se diz por aí – em off, claro! – é que a produção da peça no Rio de Janeiro, um mês atrás, quando tentava arranjar gente que produzisse a peça por aqui na Ilha da Magia, ligou pros encarregados do governo pra avisar que viriam fazer a turnê catarinense no mês de outubro. O encarregado desavisado exclamou: "Agora? Antes do segundo turno das eleições? Não dá pra cancelar?" Ó coitado! Tendo resposta negativa somente coube a este se certificar de que não haveria logo-marcas do governo catarinense nos cartazes e banners da peça por aqui!

A produção da peça no estado teria ficado pra uma produtora de Joinville que se dispôs a bancar a vergonha.

Massa, né?! "

8 de outubro de 2006

Por que não precisamos da escola do teatro Bolshoi no Brasil...

MAÍRA SPANGHERO
PROFESSORA DE COMUNICAÇÕES E SEMIÓTICA DA PUC/SP

Para quem nunca ouviu falar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, trata-se de um empreendimento encabeçado e implantado pelo casal Joseney Braska Negrão e Antônio João Ri­beiro Prestes, em 2000, como única filial de uma escola que não existe na Rússia. O que existe são o Balé Bolshoi, o Teatro Bolshoi (ambos funda­dos em 1776, em Moscou) e o Centro Coreo­gráfico. Esse detalhe não passou despercebido pela imprensa especializada, e a denúncia pode ter sido um dos fatores que levaram à mudança do nome de Escola do Balé Bolshoi para Esco­la do Teatro Bolshoi no Brasil. Prestes é o repre­sentante da empresa Paramount Advisory Services Limited, que responde pelo Bolshoi no Brasil, num contrato que dura até 2009. De qual­quer modo, o que importa, neste momento, érefletir sobre a importância deste acontecimento para nossa sociedade e a relevância de sua conti­nuidade no atual estado de exceção (ver Giorgio Agamben) em que nos encontramos. Por que cargas d'água a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil seria um dos melhores investimentos para o setor cultural de nosso país e, especificamente, para nossas crianças e jovens?

Antes de continuar, um rápido parênteses. A idéia aqui é que a reflexão tenha um sentido fundamentalmente coletivo e não seja pautada num interesse individual ou restrito. Isso signifi­ca que eu não estou pensando nos meus filhos, mas nos f1lhos do Brasil. Para tanto, é preciso não levar em consideração nem a ascenção de carreiras políticas, nem as contas bancárias, nem, tão-somente, a possibilidade da minha filha ser uma das bailarinas talentos as a ser revelada que, depois, se tiver sorte, será importada para algu­ma companhia de algum país rico do hemisfé­rio de cima. Suponho que exportar artistas não está entre as principais atribuições de um país em desenvolvimento. Além do mais, vale assina­lar que o mercado interno para bailarinas clássi­cas é reduzido, dado o número pequeno de com­panhias profissionais e a quantidade de escolas e academias brasileiras que as formam, sem falar nas escolas dos próprios teatros municipais. Desse modo, parece bastante razoável questionar se esse"negócio da Rússia" não é, na verdade, um "ne­gócio da China".

O aspecto econômico talvez seja o mais delicado de todo esse faz-de-conta, devido às investigações judiciais, à exigência de transparên­cia financeira e à responsabilidade social com o uso de recursos públicos. Vale lembrar que só o patrocínio dos Correios foi de dois milhões, e estima-se que existam outras tantas cédulas en­volvidas. Como se sabe, a matriz da escola que não existe cobra 130 mil dólares anuais pelo di­reito de uso de sua marca, como seria de se su­por em qualquer franquia. Se não fomos consul­tados antes, mas se pudermos opinar agora, valeria a pena repensar se temos mesmo a necessidade de pagar pelo aluguel da grife de um método, se temos profissionais alta­mente capacitados em nosso próprio país. Será que não estamos desembolsando além da conta pelo uso de uma marca e, por adi­ção, pela cessão de honorários de USS 192 mil anuais para professores e pianistas russos? Por que será que não estamos valorizando o sufici­ente os profissionais qualificados que atuam em nosso mercado? E, por fim, por que não cria­mos melhores formas de intercâmbio?

A questão financeira fica ainda mais delica­da quando comparamos a Escola com outros projetos. O balanço custo-benefício entre verba investida, natureza do empreendimento, núme­ro de pessoas beneficiadas e de que modo cha­ma a atenção pelo desnível (considerando nesta matemática apenas a parte de recursos públicos). Quem se interessa por projetos sociais na área de dança precisa conhecer iniciativas que também vêm tendo sucesso, mas numa outra dire­ção. São propostas que estimulam o protagonismo e a cidadania, ao contrário do anterior, que reforça o processo de dominação/ colonização e a repetição de estéticas anacrôni­cas. Em Araraquara (SP), a Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira foi baseada na bem­ sucedida experiência da Escola Municipal de Dança de Caxias do Sul (RS) e vem efetivando um trabalho de inclusão há três anos.

No Rio de Janeiro, o Dançando para não Dançar é realizado desde 1995, com o o objeti­vo de dar acesso à profissionalização, através do ensino do balé clássico, às crianças moradoras de dez comunidades cariocas de baixo poder aquisitivo. A associação Dançando para não Dançar possui convênios com a escola de Balé Staatliche Ballettschule Berlin e com o Balé Na­cional de Cuba, o que é bem diferente de pagar franquia. O projeto recebe investimento menor que 500 mil e atende 450 crianças.

Outro exemplo de baixo investimento e alto retorno é o Núcleo de Dança Votorantim, no in­terior paulista, uma proposta criada e coordena­da, desde 2001, pela Quadra - Pessoas e Idéias, em parceria com a Prefeitura Municipal de Votorantim e com o recente apoio da Empresa Votorantim Cimentos (Unidade Sta. Helena/Sal­to). Nesses cinco anos de existência, 346 pessoas, entre 8 e 35 anos, participaram gratuitamente das atividades oferecidas (diversas aulas de dança, te­atro, vídeo, etc.), além dos encontros especiais, como o Papo Papai, que atendeu 975 familiares. Nesse meio tempo, foram também produzidos 29 espetáculos de rua, 16 para o palco e 45 performances que acontecem em bairros perifé­ricos, cidades vizinhas, outros Estados, feiras li­vres, bancos. praças, escolas municipais e estadu­ais, universidades, terminais de ônibus, igrejas... O público estimado até junho deste ano estava perro dos 159 mil espectadores. Esses números indi<:an1, por acréscimo, um outro detalhe: toda a comunidade (família, amigos, pessoas de passa­gem. crianças, jovens, adultos, etc.) é integrada e participa. Para se ter uma idéia da desproporção, os recursos públicos destinados ao Núcleo de Dan­ça para este ano ficaram em RS 67.000,00. Se di­vidíssemos este valor por mês, chegaríamos a duas conclusões assustadoras: primeiro, pode-se fazer muito mais com muito menos e, segundo, não há mais cintura para tanto jogo. A verba precisa aumen­tar, pois administrar ações coletivas desse porre com 6 mil reais men­sais exige um rebolado que não épra menos. Já pensou o que pode­ria acontecer se uma parcela dos re­cursos destinados à Escola do Tea­tro Bolshoi fossem encaminhados para Votorantim?

E não é só isso. Com uma metodologia em constante transfor­mação e adaptação (compatível com a realidade complexa em que vivemos), um dos diferenciais mais importantes do Núcleo é apostar na dança como ferramenta para construir cidadania. Quer dizer, a dança oporrunizando um espaço para o conví­vio das diferenças. Os coordenadores Mar­celo Proença e Rodrigo Chiba não têm a pre­tensão de formar bailarinos profissionais, po­rém, não perdem essa perspectiva de vista nem um minuto. Uma das provas disso é o excelente "TPM (testosterona precisando de moderação)", espetáculo criado por um grupo de adolescentes, que tratou cenicamente - de modo responsável, sutil, inteligente, bem-humorado e sincero - da­quilo que acontecia em suas vidas. Se em Votorantim o que ganha força é a cultura do cole­tivo e do protagonismo social, em Joinville o que se alimenta é a cultura do pódio e a estruturação de hierarquias fixas.

O sentido pedagógico e artístico implica­do nesta ação é infinitamente mais eficaz do que o ensino do método Vaganova, mesmo nome da famosa bailarina Agrippina Vaganova, o mé­todo adotado pela Escola. Apesar de todos ter­mos mãos, pernas, braços, cabeça, não seria um risco muito grande afirmar que os corpos da Rússia são razoavelmente diversos dos nossos. Comem coisas diferentes, bebem mais vodca do que cerveja, estão expostos a um clima mui­to mais frio, falam outra língua, possuem uma trajetória histórica, política, social e cultural sin­guIar, entre outras inúmeras características dis­tintivas. Por que, então, deveríamos importar (e pagar) pelo uso de um modelo de treinamento corporal e cultural que se desenvolveu para aqueles corpos e não para os nossos? O que está se en­sinando de fato? Para quê? Para quem?

Para quem desconhece a situação dos pro­fissionais da dança em nosso país, é preciso sa­ber que não contamos com nenhuma política pública que atenda às nossas necessidades nos planos federal, estadual e municipal, exceto por algumas poucas iniciativas, geralmente fruto da inteligência e comprometimento específicos de algumas pessoas, em alguns mandatos. (Lem­brando que não se pode reduzir política cultural a leis de incentivo. Outro dado relevante a ser lembrado é que Santa Catarina abriga um dos mais importantes grupos de dança do mundo, o Cena 11, e a companhia luta constantemente pela sua sobrevivência através de patrocínios, que, em geral, são insuficientes. Em contrapartida, cifras que parecem exageradas são destinadas ao culti­vo não-antropofagizado da cultura russa em nos­sas terras. Tem alguma coisa estranha nessa ma­temática, ainda mais diante dos mais de 15 anos de esforços e trabalho árduo que o Cena 11 vem dedicando para construir uma Iinguagem artísti­ca de excelência. Além da qua­lidade da produção/criação artística valiosa (ao contrário da importação estética colo­nizadora) e da divisa cultural, a existência de uma compa­nhia como essa estabelece um ambiente propício para a profissionalização de inúmeras outras pessoas, como profes­sores, produtores, iluminadores, figurinistas, maquiadores, músicos, técni­cos, bailarinos, etc., o que re­vela o caráter multiplicador contido num investimento desse tipo.

A escravidão cultural está tão encarnada em nós, que muitas vezes não nos damos conta dela. Mas, se pararmos para ponderar, não parece muito natural achar que o que vem de fora é melhor do que aquilo que pode ser produzido por nós. O refutável dessa relação é a assimetria de valor entre o estrangeiro e o nacional. Sem esquecer que os intercâmbios são bem-vindos, pois é no miscigenar que as culturas se mantêm vivas e se propagam com mais força.

Tenho que concordar com o Manco Asturras e afirmar que estamos desperdiçando o nosso precioso Oswald de Andrade (lê-se Osváldi) com os ensinamentos de sua operação antropofágica, herdada daquilo que para nós é mais legítimo, os índios caetés.

2 de outubro de 2006

Sobre a política do pão com ovo...

Toda vez que eu penso em política eu sinto uma dor que eu nem posso explicar onde é. Fica feio explicar essas coisas. Eu me sinto simplesmente um analfabeto no assunto, ou quando muito entendo das questões que dizem respeito ao meu ofício, ou seja: eu sempre sei quando o sujeito está pondo a cultura de lado [leia-se "cultura" como meio cultural, e não me venham com teoria antropológica, please!] ... E ainda que não seja um especialista no assunto "política que fode artista", eu acho que posso aproveitar a vinda do segundo turno pra fazer uma campanha anti Luís Henrique da Silveira ... porque chega, né?!

Desde que o excelentíssimo Sr. Silveira saiu de Joinville - por ele transformada numa espécie de colonia do Bolshoi - pra ingressar na função tão meritória de governador, a vida do artista foi ficando cada vez mais difícil, e com isso o vínculo da arte com o todo do estado, a criação de outra veiculação artística nos âmbitos menos centrais e 'empompados' ficou pior ainda. E as histórias são muitas ...

Como esquecer a famigerada extinção da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), misturada no mesmo balaio do Esporte e Lazer, na tal SEITEC? Como entender que um governo que levanta a bandeira da 'descentralização' consiga ter a cara de pau de subdividir a arte à um dos segmentos de algo chamado SEITEC. Tão fácil quando distinguir arte de esporte é distinguir arte de lazer... Essa é a pedra no rim: 'arte é lazer'. Estamos falando de um governo que tem a displicência de 'confundir' arte com lazer, um governo que investe meio milhão de reais (do nosso imposto... sempre bom lembrar) pra Vera Fischer montar um espetáculo no Rio, com atores do Rio, cujo processo não contribui em nada para a cultura catarinense, e que, quando vier a Santa Catarina, terá um custo de cerca de 30 a 50 reais por ingresso ... quem é que pode ver espetáculo por este valor? As comunidades carentes defendidas pelo plano de governo do Sr. Governador? Perdão ... alguém falou em descentralização mesmo?

E mais ... como conceber que alguém pense que descentralizar é criar as benditas "Arenas multi-uso" pela cidade. Pra quê, meu Deus?! Por que raios precisamos de elefantes brancos de multi utilização - que ainda levam o nome de miss e não de atriz - espaços cujo custo poderia ser destinado à criação de espaços menores que funcionariam muito mais em comunidades que necessitam de centros culturais. Assim, com espaços culturais descentralizados, a arte poderia ser acessível à uma comunidade, criar vínculo com suas necessidades primordiais. Eu não acho que o teatro cura a fome da barriga. Cura uma outra fome... a que a gente acha que tem menos. Então, chega de arroz e feijão, chega desta política 'pão com ovo'. A gente quer a tão falada descentralização no seu sentido real, e não essa palhaçada que na qual só acredita quem tá dentro do elefante.

Eu não presto atenção no todo da administração pública... eu sei e assumo (sempre tenho milho pelos cantos da casa para sessões de punição) Mas saber, assumir e me punir não embeleza minha alienação. Contudo, isto de que falo é algo que eu vejo. É com isto que eu me emputeço, e isto quero divulgar! Sei que pra muitos eu não estou dizendo nada novo, mas pra quem acaba de saber: eu peço seu voto. No segundo turno vote em qualquer um ... pelo amor de Deus!!! Mas chega de Balé da Hungria cuja vinda custa a manutenção anual de um balé brasileiro... chega desse bolshoi que forma sei lá o que pra quem ver ... de editais fraudulentos, de dinheiro captado por artista rendendo por três meses na conta do governo... chega de palhaçada ... vote em qualquer um, menos nele ... fica dado o recado!