2 de janeiro de 2008

Melhores e Piores de 2007 - 3a parte


por Paula Braun,
diretamente do Festival de Cinema de Ficção da Eslováquia


Eu: Dani, posso falar de filme brasileiro? Foi o que eu mais vi esse ano...
Dani: Pode!
Eu: Mas será que vale a pena falar de filme que ninguém viu?
Dani: Vale, pode falar de qualquer coisa!
E assim segue uma lista de melhores e “piores” filmes brasileiros do ano. Espero que se sintam curiosos pra assistir aos filmes que posto aqui. Com exceção do prêmio plus, todos merecem ser vistos. Ah, não vou falar de “Cheiro do Ralo”. Não acho justo. Divirtam-se.


Os que prometiam e não foram
(e mais o prêmio plus – advantage)

5º - Deserto Feliz, de Paulo Caldas

Eu gosto do filme. Acho até muitíssimo interessante exceto pelo final. Aquele típico filme em que o fim estraga. O problema é a personagem imaginar uma Berlim real. Quem de nós imagina um país, ou um lugar qualquer, que seja exatamente o que é? Principalmente se tratando de uma menina pobre do sertão (sim, de novo sertão) completamente ignorante. Mas enfim, o filme tem boas interpretações, adoro a participação de Hermila Guedes (que fez o céu de Suely). Vale a pena assistir.

4º - Tropa de Elite, de José Padilha
Respeito o filme. É bom, muito bem feito, adoro a fotografia, gosto da direção, dos atores, o Wagner no melhor papel dele. O que me cansa nesse filme é a temática. De novo violência, de novo favela. AFE! Outra coisa que me incomoda muito, é que o filme não é assumido como comercial, popular. Visivelmente foi feito pra ser assim. Com todo o bafão da pirataria (gente, não foi golpe de marketing) está mais do que provado que o povão adora. E acho isso ótimo.

3º - Antônia, de Tata Amaral
Um pouco mais de cuidado poderia ter rendido um melhor filme. E a série na Globo quebrou muito o encanto que o público teria, a bilheteria foi um fracasso. Acho a história um pouco naif demais, conto de fadas do subúrbio. Um pouco de “Quero ser famosa” numa versão brasileira. Sem graça.

2° - A Via Láctea, de Lina Chamie

Quer ser poético demais, soa falso. Muita citação, ficou careta e canastrão. Nem Alice Braga (que acho ótima) consegue me fazer acreditar no que está acontecendo. Marco Ricca então... Mas não coloco a culpa nos atores. O roteiro é pretensioso demais por um lado e por outro é ruim mesmo: “Acho que não te amo mais, eu não quero mais namorar com você”. Não mostra isso pra Maria do Bairro! Por favor!

1° - (com direito a prêmio plus: Blá blá blá Wiskas Sachê):
Ó pai ó, de Monique Gardenberg
Francamente. Muito pior do que qualquer um. Coisa rara eu sair no meio de uma sessão, aqui não agüentei. Mania de produtor achar que é só colocar Wagner Moura, Lázaro Ramos e uma gostosa de peito de fora pro filme dar certo. Não deu. Pro número de cópias a bilheteria foi fraca. E outra, filme pra turista americano bobo que pensa que mulher aqui anda com fruta na cabeça. E chega.

Os Melhores de 2007

5º - Mutum, de Sandra Kogut
Adaptação perfeita de Guimarães Rosa, primeiro longa da Sandra Kogut. As crianças são lindas, e eu adoro a opção da Sandra de deixar a câmera parada, vendo qual a reação da personagem ao que o outro está falando ou fazendo. Nada daquela coisa do plano e contra plano tão televisivo. Fora isso, tem toda a fotografia do sertão. Sim, é sertão, mas também a coisa mais linda é a relação entre as personagens. Sandra conta que viveram na casa durante um tempo e que a equipe tinha o maior respeito ao entrar e mexer nas coisas... Tenho que falar da atriz que faz a mãe. Sutil, linda, verdadeira. A primeira cena dela com o moleque é de arrancar o coração. Fiquei impressionada com o carinho dela com ele.

4º - Cão sem dono, de Beto Brant e Renato Ciasca

Sou suspeitíssima pra falar de Beto Brant. Acho que é o único diretor brasileiro autoral. Ele tem uma obra reconhecidamente dele. Adoro. Quase não consigo me ausentar pra falar, porque adoro também, além do Beto, a Tainá e o Julinho. Grandes atuações, sem a palhaçada de preparação, Fátima Toledo, etc. Adoro o tema, uma história de amor fudida e real, com cenas possíveis e reais.

3º - Casa de Alice, de Chico Teixeira

Em seu primeiro longa metragem, prova que filme brasileiro pode ser europeu, argentino... Carla Ribas já ganhou prêmios e prêmios pela atuação, ela está fabulosa, junto com a Berta Zemel, que faz sua mãe. O filme é cheio de sutilezas, nuances, códigos, fala da pobreza sob uma ótica absolutamente humana. Chico disse que deu muita prioridade aos atores na hora da preparação, da filmagem, o roteiro é muito mais suporte do que a “bíblia” a ser seguida. O resultado é visível

2º - Santiago, de João Moreira Salles

É muito mais do que um documentário sobre o mordomo da família Moreira Salles (donos do Unibanco), é uma revelação do diretor, um desnudamento. Filmou há 14 anos atrás e retomou o material com um olhar auto-crítico. Ele tem sobre o mordomo uma voz de comando que já não sabemos se é do diretor ou do patrão. Ele assume e critica essa postura. Uma exposição super corajosa, não só dele como da família toda. Maravilhoso.

1° - Jogo de cena, de Eduardo Coutinho


Das coisas mais lindas que já vi sobre universo feminino e trabalho de atriz. Mulheres reais, atrizes reais, histórias reais. Depoimentos dramáticos, hilários, quase surreais, que ora atrizes narravam, ora suas próprias donas. Em certos momentos, a atriz parecia se apropriar da história mais do que a dona, outros o contrário, e o diretor brinca com isso genialmente. Ou intercalando uma e outra, ou a atriz fazendo tudo, ou a mulher mesma contando tudo, ou as duas fazendo tudo, fora os depoimentos de Andréa Beltrão, que não conseguia conter a emoção (ao contrário da mulher) ou o de Marília Pêra, oferecendo um cristal japonês pra chorar “se precisar. Porque hoje em dia as atrizes fazem questão de mostrar que estão chorando, e quem chora de verdade esconde”, ou o de Fernanda Torres, se sentindo medíocre por contar uma história de alguém real, não conseguindo ser tão humana quanto a sua personagem. Pra mim, o melhor filme. Uma obra prima.
(...)



E nessa semana tem mais listas por aqui!

Abraços!

6 comentários:

gregory haertel disse...

se alguém conhece um filme pior do que 'ó pai, ó' por favor me avise, porque eu nunca vi.
apesar de concordar com as ressalvas da paula (saco cheio do tema), acho 'tropa de elite' um bom filme.
raiva de blumenau, do vale do itajaí, de santa catarina. cadê os filmes nacionais (quero os filmes realmente nacionais e não os pastiches caça niqueis que chegam por aqui. quero 'cão sem dono' ao invés do 'coronel e o lobisomem'. quero 'santiago' ao invés de 'olga' - a pior trilha sonora do século. quero 'jogo de cena' ao invés da 'grande família')? cadê os filmes nacionais???
beijo, chico linguiça. lista de dez mais é, na minha opinião, mais do que para se concordar ou não. é quase serviço de utilidade pública. depois da lista da paula eu tenho mais vontade ainda de conferir os títulos (até alguns dos piores).
brigado, chico linguiça.
brigado, paula braun.

Malcon Bauer disse...

Olha a Paula aí, gente!

Dos piores, não vi nenhum (e acho isso incrível). E como sou curioso, vou ver "Ó Pai, ò".

Dos melhores, vi "Cão sem dono". Lindo filme. Sutil, profundo sem ser pretensioso.

E "Jogo de Cena" eu tô louco pra ver...

Essa com certeza foi a lista com mais filmes que (infelizmente! Muito!) ninguém viu... Ou pôde ver...

turnes disse...

Que lista boa! Chocante Paula, não vi todos, mas agora vou correr pra ver (os melhores em sua opinião!).Vi Santiago e achei de uma sinceridade absurda, lindo. Cão sem Dono é mais uma grande obra do grande cineasta-autor que temos hoje, e o do Coutinho não vi, mas deve ter mesmo seu toque simples, sensível e genial. Viva o cinema nosso! Valeu Paula!

turnes disse...

ah e adorei: palhaçada de prepaparação a la fátima toledo hahaha...concordei.

Daniel Olivetto disse...

que delícia... tô correndo atrás dos filmes agora Paulitcha...

e já morendo de saudade de tu...

Beijocas

Anônimo disse...

Fiquei com desejos... é realmente triste que as coisas não cheguem aqui - ou cheguem escassamente.

E olha... faltou o prêmio Musa do Verão Cinematográfico para a Paulitcha!

;-)