8 de janeiro de 2008

Top 9 vistos em 2007


por Renato Turnes
diretamente do Festival de Cinema de Horror de Moscou


Essa lista é de filmes que eu vi e gostei em 2007, a cronologia é doida, tem filme véio, filme novo, não tem ordem. E também não tem ordem de melhores, fui lembrando e escrevendo.


Vamo lá!


M – O Vampiro de Düsseldorf

O clássico do expressionismo sonoro de Fritz Lang é um espetáculo de montagem profundamente emocional. O P&B deslumbrante sugere sombras mais psíquicas que monstruosas. A mis-en-scene rígida, limpa e simbólica consegue extrair sentimentos sinceros do elenco, liderado por um Peter Lorre de olhos esbugalhados e cara de doidão. Seu monólogo final soa um tanto demodé, em grande estilo teatrão, mas marca uma época de transição, na qual o cinema deixou-se encantar pelo verbo.


Macunaíma




O herói sem caráter de Mário de Andrade é revisto sob a ótica tropicalista e antropofágica de Joaquim Pedro de Andrade. Moderno, irreverente, hilário, colorido, farsesco, lindo de se ver. Paulo José é um grande ator jovem pulsando criatividade e inteligência cênica. Grande Otelo é a encarnação da chanchada, palhaço mestre nesse estilo genuinamente brasileiro de atuar. Dina Sfat é a diva que o Brasil perdeu cedo demais. Obra – prima irretocável.


Os Incompreendidos



Godard é um chato. O maior cineasta da França é Truffaut e não se fala mais nisso. Seu cinema comunica, emociona, é delicado e poético sem ensimesmar-se e se auto-alimentar em seu próprio discurso. Nesse filme o mestre apresenta o garoto Antoine Doinel, personagem alter-ego. Protagonista de várias produções posteriores, sempre foi interpretado por Jean Pierre Leaud, que cresceu sob a batuta do mestre. Autobiográfico, emocionante, leve, amoroso, cinema em cada fotograma. Nouvelle Vague para todo mundo.


O Mensageiro Trapalhão

Jerry Lewis continua sendo um gênio outsider, mesmo depois de décadas de encantamento que sua arte produziu. Clown loser e apaixonante, o ator-diretor-roteirista-produtor esbanja seu gigantesco talento histriônico nessa obra-prima do humor físico. O roteiro nada convencional é uma colcha de retalhos de esquetes quase sem ligação entre si, nos quais o cômico desvia o andamento natural das coisas em favor da graça absoluta. Clássico, vanguarda, metalinguístico, auto-referente, anárquico, Jerry é uma inspiração e um tesouro.


Mais Estranho que a Ficção



Se os roteiros de Charlie Kauffman já fizeram escola e já viraram estilo, essa é a melhor das cópias. Divertido e tocante, o filme mistura inconsciente, fantasia, literatura e romance sem parecer um caos moderninho, um pastiche kauffmaniano. Tem identidade própria, apesar das referências tão próximas. E ainda revela um Will Ferrel muito além do vaudeville.


À Prova de Morte

Sim eu já vi o novo Tarantino. Me segurei na poltrona e viajei no estilo do enfant terrible americano e seu cinema de referências nada esperadas. Death Proof é engraçado, sexy, violento e catártico. É setentista, retrô, underground, tem mulher gostosa e poderosa, a trilha é genial, como sempre. E ainda dei vexame dando gritinhos de UHÚ na seqüência final. É cinema pra se divertir, de um diretor que domina seu estilo com absoluta propriedade.


Piaf

Cinemão francês feito pra chorar. Muito bem feito pra chorar. Melodramático, exagerado, emocional, arrepiante, dramático....ui que delícia. É pra se entregar e pronto. O tom trágico é coerente com a vida da estrela francesa, que tinha a tragédia enfiada na alma e colada na voz. A seqüência em que Piaf recebe a triste notícia sobre seu amado Marcel é filmada com uma sofisticação e um lirismo inesquecíveis. E ainda recebemos a interpretação gigantesca de Marion Cotillard como um soco na boca do estômago. Sua caracterização é inebriante e as transições que constrói dignas de um monstro sagrado da arte de ser outro, e ainda ser tão sincero. Sua Piaf dói.


Pequena Miss Sunshine



Num universo cheio de tecnologias, motions captures, Dakotas Fannings (medo!), digitalismos, astros temperamentais e as mesmas velhas histórias recontadas, surge essa pequena pérola do melhor cinema independente americano, provando que cinema pode ser roteiro, ator, e uma kombi. E claro uma direção sutil e sensível que não quer aparecer mais que seus personagens. Ah! E uma criança que parece criança. Apaixonante road movie.


Horror de Frankenstein

Um clássico da Hammer Films, produtora inglesa célebre pelas adaptações de horror de baixo orçamento, violentas, kitsches, às vezes patéticas. Mojica, Coppolla e Polanski, os jovens cineastas e videomakers do trash, todos beberam nessa fonte de terror fake, nesses cenários de casa de vó, cobertos de papel de parede e móveis de brechó, nesses figurinos reaproveitados, nesses atores de fleuma britânica e impostação duvidosa. Para quem não se importa com a necessidade de verossimilhança que o cinema realista nos ensinou e se entrega ao jogo e à fantasia. E é capaz de rir em meio à carnificina.

(...)

Essa semana tem a ultima lista... que é do dono da casa!

8 comentários:

loli disse...

um pastiche kauffmaniano?? ADOOORO!!

Paula Braun disse...

Puta bom gosto, senhor Turnes!!! Adoro, principalmente Os Incompreendidos... Truffaut pra mim é o maior mestre de todos, adoro tudo o que ele fez. Mas gosto do Godard também...rsrsrsrs
Macunaíma é um clássico do nosso cinema, Pequena miss Sunshine lindo, O Vampiro de Düsseldorf tb adoro... Curiosíssima pra ver Horror de Frankestein. Ah, trilha sonora da leitura e comentário: Piaf.
Beijo,
Beijo Daniiiii, puta saudade já!

Malcon Bauer disse...

O que eu adoro nessa lista é que temos quase todos esses filmes lá em casa, né, Rê?

Nossa dvdteca é mesmo um luxo.

É uma lista pra mim inquestionável, já que seu critério permite que ela seja composta por filmes de qualidade praticamente indiscutível.

Só uma coisa, Rê...

Filme de monstro????

nNão tinha coisa melhor não?

hehehehehhe

turnes disse...

Paulitcha a minha questão com Godard é assim: tirando Acossado, que é fodaço, em outros filmes dele, a primeira metade eu não entendi e a segunda eu dormi, ou vice-versa. kkkkk
e Malcolino...um rato que fala também é meio monstruoso né? rsrsrs
beijos
no aguardo da lista do anfitrião,

Daniel Olivetto disse...

eu vi "je vous salue marie" e acho uma merda...
beijo

Paula Braun disse...

ô chico Linguiça... eu tenho esse filme e ainda não vi...rsrsrsrs
Mas o "Tempo de Guerra" dele eu adoro!

Malcon Bauer disse...

Renato...

Em "Ratatouille", os ratos só falam entre si. Os humanos só escutam os guinchados.

hehe

turnes disse...

aaaaaaaahhh!
Então tá, agora sim, claro rato guincha e gente fala...rsrsrs

cadê a lista do Seu Dani?