25 de maio de 2008

Alzira versão 6.0

Alzira não reconhecia mais a própria sombra. Estava quase psicótica, ela, de se ver tão atualizada, de ver o melhor de si. Se espantava com suas novas frases. Seu organismo a estranhava, inclusive. As senhas expiraram. Urina e vômitos fora do fuso. O ar entrava por todos os poros e ela quase inflou pra sair voando. Achava que sua voz tinha mudado. Tudo estava novo na Alzira. Tudo era novo e melhor nela. Tudo era novo, melhor e retumbante. Acordava cantarolando e dançando pela cozinha. Começou a se ver mais jovem, mais atraente, mais inteligente. Era tudo tão melhor que ontem, antes de dormir, teve medo de ser tão umbilical assim feliz.

7 de maio de 2008

Por isso que ele sumiu...



assim que der eu volto pra cá!
beijo

17 de abril de 2008

A vida nova de Alzira

Parou de fumar, a Alzira. Comprou roupa de ginástica, e mudou de parâmetros alimentares. Enfileirou os livros novos que ela vai ler logo logo. Ajeitou os cabelos, e experimentou de novo o vestido velho que estava tomando um ar. Fez novas poses no espelho. Escolheu novas frases de impacto. Tinha um jeito bobo no olhar da Alzira. Será que estava apaixonada? - perguntavam os muros laterais do castelo. Era pura satisfação a vida nova dela. Vira na tevê uma heroína gritar "jamais sentirei fome novamente", e ficara com o "jamais" na cabeça. E quis conhecer outra vida. E escolheu começar tudo de novo. Estava pronta: vestido ousado, agora sem naftalina, cabelo penteado, sorriso de diva... Abriu a porta da rua e o tempo fechou. A chuva não tardaria.

10 de abril de 2008

Isto é dramaturgia pós-moderna!

Meus dois alunos da turma de crianças em um improviso num dia desses:

João Vitor/Personagem: Policial - Você está preso por desacato a autoridade!

Saimon /Personagem: Bandido - Mas, eu só tenho sete anos!

(...)

Adoro a dramaturgia expontânea das pessoas!

2 de abril de 2008

Felicidade é o hoje...


22 de março de 2008

O Coração na Boca

Acabo de rever "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças".
E o diálogo final fala mais que eu poderia dizer sobre meus próprios arrepios:

Joel - Eu não entendo o que aconteceu. Eu não vejo nada em você que eu não goste.

Clementine - Mas você vai ver.

Joel - Eu não me importo

Os dois correm brincando na neve. Vão se apagando no fundo branco. Música: "Everybody´s gonna learn sometime" do Beck.

Fim

18 de março de 2008

O dia em que a Alzira quase explodiu

Pensou que estava ôca, a Alzira. Mas tinha um bateria dentro do coração e um multiprocessador no estômago. Ali bem perto das orelhas tinha amplificadores de alta tecnologia que faziam ecoar tudo o que vinha do mundo exterior (lugar-tão-alheio). Tinha um circulador de ar barulhento e enferrujado no peito. Tinha uma lupa nos olhos, tudo era pesado, tudo era intenso, tudo era mais forte do que ela. Tinha amídalas hipertróficas, mas comia feito uma draga. No esôfago, Alzira tinha um moedor de carne. Seus dedos eram tortos, roídos. Alzira estava atulhada de tudo que havia de pior. Queria espirrar toda a sujeira, vomitar os sentimentos que não serviam, queria expelir seu mal. Então, quando se viu perfumada numa destas tardes calmas de abril - como numa cena de filme em paisagem tropical - Alzira quis explodir suas vísceras. Ficou tão afoita que deu um imenso grito pra dentro. Não havia espaço algum. Alzira fora obrigada a acreditar que a vida ôca não passava de uma ilusão. Sabia tão pouco de si, a Alzira.

12 de março de 2008

Ficção não é Mentira

Fico puto quando as pessoas dizem que somos atores na vida. Ator é uma profissão, vamos combinar isso. Uma profissão difícil e decente como muitas outras. Mas sob o argumento de que o ofício do ator é o fingimento, algumas cabeças pouco esclarecidas cismam em atribuir seus fingimentos do cotidiano à boa e velha arte da vida. "A vida não é uma arte, é uma cópia mal feita da arte", não lembro quem disse isso, mas boto fé! A diferença - se é que dá pra ser tão objetivo - é que a arte lida mais com a ficção do que a vida. Na vida há mais representação, mais fingimento. Na arte, a busca é sempre por algo verdadeiro, orgânico, vivo, sincero, dentro de uma lógica que se supõe ser fictícia (quase sempre). O cotidiano é o espaço do fingimento, e atuar não é fingir, é ser o que se é de verdade, por isso, é tão difícil atuar bem. Sempre gostei de dizer: "não atuo nas horas vagas. Quando paro de trabalhar eu sou eu mesmo"... já não concordo mais com isso. Acho pura besteira de ator babaca. Acho que no cotidiano, nessa vida maluca de múltiplas funções, papéis, âmbitos, etc, fingimos mais, somos falsos mesmo. Maus atores. A ficção que se põe em cena busca por meio do ator ser sempre uma verdade e a verdade que representamos no cotidiano é quase sempre mentira. Eu finjo que estou preocupado com tudo, que sou simpático, que me acho atraente, que estou seguro, que adoro a minha vida, que sou inatingível. Você alguma vez já foi minha platéia, mesmo que eu não soubesse. Mas, me desculpem: eu finjo mal. Eu choro escondido, eu tenho medo de ficar sozinho, eu não sei dizer o que eu penso, eu atraso o abraço e perco a chance de um contato real, eu perco chances de dizer as coisas certas porque tenho medo me verem mesmo, eu preciso que me digam o quanto eu sou legal, o quanto eu sou útil. Eu sou uma mentira bem fuleira. Nem eu mesmo me convenço. Quando atuo por ofício, acho que consigo ser melhorzinho. É que eu preciso da boa ficção pra tentar ser real.