30 de dezembro de 2006

E o Oscar deveria ir para...

De médico, de louco, e de crítico de cinema todo mundo tem um pouco...

Os Melhores do Cinema (que eu vi) em 2006!













Da Cama pra a Fama













Boa Noite Boa Sorte












Cachê


Melhor Filme

1. Da Cama para a Fama (Espanha)
2. Cachê (França)
3. Boa Noite, Boa Sorte(Estados Unidos)
4. Cinema Aspirinas e Urubus (Brasil)
5. Elefante (Estados Unidos)
6. Dona Helena (Brasil)
7. Antes do Anoitecer (Estados Unidos)
8. Os Sonhadores (França / Inglaterra)
9. O Segredo de Brokeback Mountain (Estados Unidos)
10. Carros (Estados Unidos)



Elefante (esq.) e Os Sonhadores (abaixo)











Melhor Interpretação Masculina

David Strathairn (Boa Noite Boa Sorte)
Javier Câmara (Da Cama para a Fama)
Daniel Aulteil (Cachê)
Javier Barden (Antes do Anoitecer)
João Miguel (Cinema, Aspirinas e Urubus)
Heath Ledger e Jake Gyllenhall (O Segredo de Brokeback Mountain)








Brokeback Mountain


Melhor Interpretação Feminina









Volver

Carmem Maura (Volver)
Candela Peña (Da Cama para a Fama)
Blanca Portillo (Volver)
Maria Bello (Marcas da Violência)
Anette Bening (Adorável Julia)

Melhor Direção

Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain)
George Clooney (Boa Noite, Boa Sorte)
Michael Haneke (Cachê)
Bernardo Bertolucci (Os Sonhadores)
Pablo Berger (Da Cama pra a Fama)
Dainara Toffolli (Dona Helena)
Gus Van Sant (Elefante)










Adorável Julia














Dona Helena (acima) e Antes do Anoitecer

29 de dezembro de 2006

família:papai, mamãe, titia...













Família é tudo igual, só muda o penteado e os antecedentes criminais... o resto é igualzinho mesmo... uma semana em casa e você testemunha as dores e delícias de viver com quem você briga mas não não desgruda, com você se desentende mas não troca por outra família de novela das oito... meu pai peita na frente das visitas, minha irmã anda de sapato dentro de casa reclamando que a chuva vai molhar a escova, minhas primas assistem "Rebelde", minha avó resmunga o tempo todo, minha mãe reclama de tudo, mas quando você senta pra comer pizza e para assistir o especial (tosco) de fim de ano sobre Elis Regina, as coisas mudam muito, e você entende as verdadeiras razões de tudo... tudo acaba em pizza. Mais que isso: tudo acaba em pizza, cafuné, presentinhos de natal, desabafos, progressos, elis regina, shopenhauer, documentário da TV a cabo com seu pai dormindo no sofá, bons filmes com o seu tio filosofando sobre cada detalhe daquilo que você preferia ver em silêncio... (pensando bem: alguns tios e primos eu até trocava pelos da novela das 8) ... o bom filho a casa torna... e ao bom filho o caldo entorna ... ao bom o filho os anos entortam e lhe trazem tantos sentimentos bobos que um post de blog perde totalmente a razão!!!

Feliz 2007!
(fiquei sem mais palavras...)

26 de dezembro de 2006

Arethãããããõooooo !!!

Ai, eu amo essa mulééééé ...

olha o que eu roubei dela hoje:

(e que ela emprestou de http://carapuceiro.zip.net)

UM FEIRANTE É TUDO NA VIDA DE UMA MULHER

"Nada melhor que uma mulher que acabou de chegar da feira.

Sacola na mão, fome de viver, sorriso de princesa.

Os vendedores de frutas, peixes e verduras são mestres na arte de reconhecer talentos e animar as moças com os seus adjetivos. Adjetivos às pencas, elogios às dúzias, mimos, dizeres, samba exaltação, graças.

Meia hora de uma mulher na feira vale mais do que um mês de análise, do que a onda de orientalismos tantos do mercado, do que a yoga, do que o mestre japonês das agulhas, do que uma banheira de sais...

Nem mesmo quando as mulheres estão acompanhadas, os feirantes dão sossego. Esperam você, jovem mancebo, se distanciar um pouco, dois, três passos, e tome gracejos e flertes na baciada.

''Olha a manga, gostosa!'', bradam, administrando com malícia a vírgula e o duplo sentido na ponta da língua.

“Ovo e uva boa!”, arriscam para as elegantes damas de preto.

“Essa é modelo!”, capricham para as gazelas saltitantes.

"Se eu fosse um peixe, eu seria um namorado!”.

É a boa guerra dos mascates. Eles vão no ponto, exatos como neurocirurgiões do desejo. Sabem de longe, por exemplo, quando uma mulher tem alguma ''encanação'' com a idade. Em um segundo, sapecam um tratamento carinhoso: ''Pra mulher nova, bonita e carinhosa, eu não vendo... eu dou!” E mais: “Só vendo pra menores de 18 acompanhada pelos pais”.

Em dias de chuva, mandam ver de acordo com o meteorologista: ''Essa é enxuta até debaixo d'água'', alardeiam.

Um bom feirante reduz até os efeitos de uma TPM, de uma dívida nunca paga, de uma culpa que corrói o juízo, de um regime ainda sem resultados _elas ainda não sabem que uma polegada a mais, uma a menos, pouco importa para quem tem gosto de fato por mulher.

Nada como incentivar o caminho da feira mais próxima da sua casa para as mulheres.

No Ceagesp, então, os adjetivos saem a grosso e a varejo, na bacia ou nos caixotes.

Os feirantes não mentem jamais. Eles sabem, mais do que ninguém, que em toda mulher, seja quem for, existe um traço ou um aspecto de beleza.

Afinal de contas, mulher é metonímia, parte pelo todo, você passa a apreciá-la por uma boca, um pé, uma orelha, uma mão, uma omoplata, um belo ilíaco ressaltado, uma saboneteira, uma marca sulcada de vacina, um corte no joelhinho esquerdo, uma cicatriz de artes de infância, uma bela bunda faceira, uma falsa magra, um umbiguinho do mundo, aquele tom cinza dos cotovelos da espera..."

24 de dezembro de 2006

a lírica dos últimos dias

É natal, que legal...lá lá lá lá ... enfim: foda-se! eu não gosto de natal e não tenho a menor vocação pra católico... o que eu quero postar hoje é outra coisa...

Tenho ouvido muito o último cd do John Mayer (Continuum) ... e - só pra informar - ele já não é mais um prospecto de Dave Matthews... Vejam este trechinho de umas das canções do último album que estão trazendo ótimas palavras para o fim de ano... (pelo menos pro meu)


"Stop this train
I want to get off
And go home again
I can't take the speed it's moving in
I know I can't
But honestly, won't someone stop this train?

So scared of getting older
I'm only good at being young
So I play the numbers game
To find a way to say that life has just begun

Had a talk with my old man
Said "help me understand"
He said "turn sixty-eight
You renegotiate"

(John Mayer / Stop this train)

Ah... pros católicos: FELIZ NATAL!!!

beijoca gorda

13 de novembro de 2006

Iluminações
de Lorenzo


















emprestado de um espaço lindo à beça:
http://cervejaefralda.blog.terra.com.br/


O rosto muda todo dia. O olhar percebe coisas novas que não podemos imaginar. Cores, sons, objetos. A voz do pai ou da mãe ou de outra pessoa mais chegada tem entonações diferenciadas que provocam as reações mais surpreendentes possíveis.

Cada despertar é uma descoberta. Cada abrir de olhar é um novo dia. É uma nova obra. É um poema constante sendo desenhado na mente de Lorenzo. Nesse mundo de sonhos em que a vida é mais vida que em qualquer outra fase da vida tudo fascina ou assusta. Não existe muita diferença entre o fascínio e o assombro. Lorenzo é uma página em branco sendo escrita, rabiscada, desenhada, colorida.

Muitas vezes os pais estão cansados. A vida adulta é cheia de deveres exageradamente valorizados. Repleta de desejos obtusos e prazeres momentâneos. Lorenzo vislumbra um pedaço da minha mão e sorri. Agarra a mão. Aperta. Se eu largo, ele reclama. Depois esquece da mão e sorri observando um quadro colorido na parede. Mexe as mãos. Ele quer apertar o quadro. Escuta uma música vindo de algum rádio ou televisão. Quer pegar a música no ar. não consegue. Já esquece de tudo de novo e enfia a mão na boca. A gengiva incomoda. Chupa os dedos. Baba. Tira a mão da boca e se dá conta que tem fome. Ele não chora. Berra. Fica brabo. E berra mais alto ainda. Correndo alguém lhe prepara a mamadeira. Ele abre a boca desesperado e quase engole o bico no primeiro gole. Depois de algumas sugadas, pára, respira fundo e suspira. Depois fecha os olhos e abre para encarar o pai e sorrir deixando escorrer leite pela roupa. Sua risada navega pelos sonhos derivantes de um oceano sem horizontes chamado vida.
Como é simples a felicidade de Lorenzo.

Como seria simples viver de tão pouco.

A felicidade é um pontinho que de tão pequeno se multiplica por todos os pontos do universo.

Marcelo Benvenutti - pai do Lorenzo
(Blog Cerveja e Fraldas - tem um link à direita!)

12 de novembro de 2006

............................pois é..........

emprestado de www.fotolog.com/pokelan em post de 08 de novembro:

"Daqui a trezentos anos não existirei mais.

Outros amarão e serão amados,
Outros terão livrarias católicas,
Outros escreverão no suplemento de domingo nos jornais: Eu não existirei mais.

Seja, não importa, senhor!
Sou um pobre gordo. Mas sei que eles também não serão felizes.
Eu sim, o serei então.

Quando debaixo da terra, magro, magro, só ossos,
Não existir mais."

11 de novembro de 2006

Princípios que retornam... e retornam... e retornam...















O Sr. Druon ressurge no palco de uma escola hoje pela manhã e o intérprete resmungava ao fim da apresentação... Cada vez que apresento "O Menino do Dedo Verde", espetáculo no qual atuo solito há uns quatro anos, eu entro em contato com coisas que nem sempre são aquelas que eu realmente quero encontrar... é sempre um retorno... sempre. Muitas obras artísticas chegam no momento em se desatualizam (ou se cristalizam, como costumamos dizer). Nunca pensei isso sobre "O Menino...", mas pensei hoje após a apresentação me vendo insatisfeito com o trabalho do dia. Seria uma desatualização do espetáculo? (chamo de desatualização a velhice na forma de comunicação, ou na estética, ou no sentido do que se diz e do como se está dizendo...) Seria a cristalização ou o velho conflito de um ator quase velho que prefere abortar a obra que lhe exige cruzar uma nova fronteira? Em suma: será que o espetáculo envelheceu ou o ator se fixou demais em certezas que precisam ser esquecidas pra uma nova pulsação ser gerada?

10 de novembro de 2006

"vou lá... que andar é reconhecer"


















"A vida é um clube onde é proibido reclamar, onde só dão as cartas uma vez e todo mundo tem que jogar. Assim, mesmo que as cartas sejam péssimas e estejam marcadas pelo destino, jogue, tenha espírito esportivo, seja um cavalheiro. Encha a cara, coma de tudo, aproveite as garotas do andar de cima, mas não se esqueça: quando chegar a hora de baixar a cortina, saia de cena sem reclamar..."

Nathanael West

3 de novembro de 2006


Negligência
ou falta de planejamento?










O cancelamento do Festival Isnard Azevedo em 2006 leva à reflexão sobre o tratamento dispensado ao teatro em Santa Catarina


Daniel Olivetto e Marisa Naspolini
Especial para o AN/Florianópolis

Na última semana, a população de Florianópolis recebeu a notícia da mais nova ação da administração pública municipal: o cancelamento do Festival Nacional de Teatro Isnard Azevedo, que chegaria este ano à sua 14ª edição. Os motivos alegados pela Fundação Franklin Cascaes (FFC) foram a falta de recursos e a necessidade de reformular o evento. Estas motivações nos levam a refletir sobre o tratamento que vem sendo dado a este importante evento, de projeção nacional, e acentua o que vem se configurando como uma total falta de planejamento e de definição de uma política cultural clara para o teatro, assim como para os demais segmentos artístico-culturais, em Florianópolis (e por que não dizer, em todo o Estado de Santa Catarina?)

Um festival como o Isnard (como é carinhosamente apelidado pelo povo de teatro) cumpre com diversas funções importantes no contexto da cultura catarinense:

1) promove o intercâmbio entre a produção local e de outras regiões do país, instigando os grupos catarinenses a manter uma produção ativa e atualizada com as principais tendências do cenário contemporâneo nacional;

2) forma público, cumprindo com o papel de democratizar o acesso aos bens culturais, através de ingressos de baixo custo e viabilização de espetáculos em regiões mais afastadas do centro da cidade;

3) possibilita o contato com um tipo de produção, experimental, que de outra forma não teria como ser apresentada nestes recantos.

No ano passado, justamente as funções mais importantes que ele parece cumprir foram negligenciadas devido a alegados fatores financeiros, contribuindo para um total empobrecimento do evento, que deixou no ar uma sensação de "apagar das luzes". Como exemplo das ações (não) efetivadas, citamos: os grupos que vieram de longe participar do evento eram obrigados a permanecer no máximo três dias na cidade, para não onerar demais as despesas com hospedagem; o valor dos ingressos foi aumentado em 50%, ação revista após gritaria geral, mas era tarde demais (o público já havia se afastado); as sessões de debates foram canceladas devido ao ônus com pagamento de profissionais especializados, e por aí vai... O que aconteceu? O público não compareceu, deixando o Festival e a FFC de cumprir com o papel fundamental de gerar acesso público e irrestrito ao fazer teatral; os grupos não "trocaram figurinhas"; público e artistas perderam a chance de debater seus trabalhos e aprender com a discussão sobre a diversidade de linguagens e de meios, princípio fundamental para um fazer consciente e transformador. Afinal, o fazer cultural prescinde do debate, do estudo sobre a obra, das relações entre as impressões do público e os impulsos criadores. Conclusão: ano passado, todo mundo saiu perdendo.

Ao cancelar a edição deste ano, a FFC lançou data e formato novos para 2007. Uma das novidades é o retorno do caráter competitivo do evento, dissolvido desde a penúltima edição (e que possibilitava um avanço em direção a modelos mais arejados). O festival passará a oferecer um prêmio de R$ 10 mil para o melhor espetáculo adulto e de R$ 3 mil para o melhor espetáculo de rua, além de eliminar a categoria infantil. Ora, a tendência atual deste tipo de evento é justamente minimizar as diferenças entre categorias (adulta, infantil, de rua) e apostar em espaços múltiplos (para muito além dos palcos convencionais). Cabe também perguntar que tipo de critério é este que define tamanha diferença de valor para espetáculos de rua e de palco. Trata-se de um tratamento menor dado à arte da rua? O que dizer então da retirada do público infantil, fundamental quando pensamos na formação de futuros espectadores e amantes do teatro?

Nas últimas edições, os debates promovidos pelos espetáculos feitos para crianças (de idades entre 3 e 80 anos!) geraram discussões muitas vezes mais consistentes que os próprios debates dos espetáculos adultos. Esta mostra, às vezes desprestigiada por parte da classe teatral, mas de grande relevância para o público em geral, sempre apresentou um nível estético tão qualificado quanto o dos espetáculos da mostra adulta ou de rua, e algumas vezes maior... Os eventos mais maduros no cenário teatral brasileiro já aprenderam há muito que esta supremacia do teatro-de-palco-italiano-para-adulto estimula um preconceito tão nocivo para os artistas que se propõem a outras linguagens quanto para o próprio público.

Vale ainda lembrar que a mudança de data de realização de um evento deste porte não pode ser feita sem planejamento consistente. Não se trata apenas de encaixá-lo num período de pauta disponível nos teatros (que parece ser a lógica da escolha do mês de abril), nem de decidir, de uma hora pra outra, que o festival pode se tornar uma atração turística do verão ilhéu. A mudança para a temporada de verão requer outro perfil, outro modelo, outro conceito. Não é possível "recortar e colar" neste caso.

Há pelos menos cinco anos, a classe teatral vem se dispondo e se propondo a fazer uma reformulação do modelo do festival (porque todo evento, por melhor que seja, precisa ser revisto constantemente, com o risco de congelar-se em estruturas mofas e sem vida). É de conhecimento público que a falta de verbas acarreta restrições, mas também isso deve ser discutido. Se, como alega a FFC, os motivos são mesmo a falta de recursos e a necessidade de repensar o modelo, sugerimos:

1) que este modelo seja realmente revisto e, de preferência, junto a quem faz teatro. No entanto, o que parece é que o novo modelo já foi definido e será implementado sem qualquer tipo de consulta à comunidade teatral. Esta postura só vem contribuir para aumentar a decepção geral que se instalou no meio;

2) se há problemas com recursos, há que repensar todo o processo de financiamento da cultura no município (e no Estado).

Vivemos um momento político de absoluto descaso com o fomento à produção local. Abundam castelos de areia, com belas construções sem consistência alguma. A ausência dos eternamente prometidos, e jamais lançados, editais públicos obriga toda a produção cultural a lidar exclusivamente com a lógica perversa das leis de incentivo (oops, exceção digna de registro: o governo federal, através do MinC/Funarte, vem lançando editais públicos anuais, o que tem possibilitado minimamente a sobrevivência de alguns projetos em terra catarina). Isto sem falar na inexistência de um Conselho Municipal de Cultura, que, além de reivindicação antiga, é condição sine qua non para que o município integre o Sistema Nacional de Cultura. Mas o fato é que, com o cancelamento do Isnard, fica evidente o quanto é difícil depender exclusivamente dos recursos provenientes do empresariado para manter as atividades culturais. Se a FFC, com todos os recursos e aberturas políticas de que dispõe, encontra dificuldade para a captação, o que dizer da imensa maioria das produções independentes catarinenses? E quem melhor do que a própria administração pública para mudar este estado de coisas, garantindo um orçamento digno para a cultura?

É necessária uma atitude política clara. Ou o poder público manifesta seu interesse efetivo em dar continuidade a este projeto - que pode e deve se ampliar, se re-qualificar e trazer uma contribuição singular e diferenciada à cidade de Florianópolis - ou permanecemos no faz-de-conta - as mudanças solicitadas por quem pensa as reais necessidades da classe teatral e do público ficam guardadas numa gaveta e o festival segue sendo organizado burocraticamente como mais um ponto no calendário municipal.


· Daniel Olivetto é ator, educador e diretor teatral; integra a Cia. Experimentus Teatrais e é aluno de graduação do Centro de Artes da Udesc

· Marisa Naspolini é atriz, diretora e professora; integra a Gesto (Associação de Produtores Teatrais da Grande Florianópolis) e é mestranda em teatro no Centro de Artes da Udesc

20 de outubro de 2006

Reaberta a temporada de caça às bruxas...

Abaixo divulgo a carta do escritor e cineasta Fábio Brüggemann, exonerado de seu cargo na Fundação Franklin Cascaes (Florianópolis) por ter participado do longa Matou o Cinema e foi ao Governador.
A carta fala tudo:

"Meus amigos, meus inimigos (para lembrar Manuel Bandeira)

Ontem, em uma prática que julguei ter sido esquecida desde a ditadura, fui sumariamente exonerado do cargo de coordenador geral da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. Soube hoje, de fonte segura, que o prefeito Dário Berger atendeu a um pedido pessoal do candidato à reeleição, Luiz Henrique da Silveira, em represália àqueles que ousaram realizar um filme ( Matou o cinema e foi ao governador), feito para mostrar a incompetência (pública e notória) de sua gestão frente às demandas da classe produtora e artística do Estado. Ao invés de debater o motivo e conversar com a classe, o candidato usou da velha e covarde tática da caça às bruxas, e com a truculência que lhe é peculiar, sem sequer ter visto o filme, pediu minha cabeça.

Na última eleição para prefeito, quando deveria ter havido um debate entre os ex-candidatos a prefeito, Dário Berger e Chico de Assis, com representantes da classe artística e cultural, o senhor Dário Berger não pode ir, mas pediu ao escritor Péricles Prade que o representasse. Todas as propostas que o escritor apresentou no debate eram as mesmas que eu havia repassado a ele (a seu pedido), tirada de vários documentos (àquelas alturas já tornados públicos) compostos pela Frente em Defesa da Cultura e pelo Forum Floripa, movimentos representativos da classe artística e cultural da cidade e do estado.

Péricles solicitou, então, quando o prefeito se elegeu, que eu assumisse a coordenação geral (mesmo eu não pertencendo a nenhum partido) para auxiliar o superintendente da Fundação, senhor Vilson Rosalino, e o prefeito, a cumprir a promessa de campanha feita naquele debate, já que eu conhecia de perto tais reivindicações. Porém, alianças partidárias, vontade de permanecer no poder, interesses outros que não os públicos, aliado ainda a um desconhecimento do prefeito em relação à cultura, fizeram com que nada do que fora prometido fosse efetivamente cumprido. Editais de apoio, o Fundo Municipal de Cultura, uma política de estado, realização de seminários (nem mesmo o Festival Isnard Azevedo haverá neste ano, depois de mais de uma década de existência) nada foi feito, deixando-me, muita vez, constrangido, e, ao mesmo tempo, me sentindo tolo em acreditar que algum político tenha mesmo interesse em fazer da cultura uma prioridade.

E mesmo estando ciente de que o prefeito Dário Berger e o candidato a reeleição Luiz Henrique fizeram uma aliança, nunca deixei de ser crítico, seja em minha coluna no Diário Catarinense, seja nas minhas atividades como escritor e realizador de filmes. Tanto que, mesmo sabendo que poderia haver retaliações, participei com prazer (e o faria de novo) do filme supracitado. Ingenuidade, eu sei, porque acreditei que mesmo participando de uma gestão fosse possível ser crítico em relação a ela mesma. Assim se trabalha em equipe, em imaginava, seja para gerenciar cultura, seja para fazer um filme, como o que fizemos. Ainda mais que eu mesmo havia ajudado a conceber as promessas de campanha, de alguma forma.

Mas estes senhores não compreendem, ou se fazem de tolos, que a cultura permeia todos os gestos. Seja pela forma como tomamos o ônibus, seja pelo jeito como enterramos nossos mortos, ou na arquitetura das nossas casas. Cultura, para eles, é apenas aquilo que não os coloque em perigo. Por isso, é fácil mandar às favas alguém que questiona e pensa um pouco nestas questões. Por isto o orçamento é tão minguado, e quando não é minguado é distribuido de forma nada democrática.

Tão logo entrei na FFC, os jornais noticiaram que eu passaria de pedra à vidraça. Mas logo percebi como são tratadas estas questões, já que o coordenador de patrimônio da FFC, com anuência do senhor Vilson Rosalino, só para dar um exemplo, está lá apenas porque é cabo eleitoral do senhor Sérgio Grando, não porque seja um técnico da área, resultando, por exemplo, num abandono total da Casa da Memória, um dos centros de documentação mais importantes do Estado, e hoje sob os (des)cuidados da Fundação. Mas memória, para estes senhores, é coisa perigosa.

Não sinto por ter saído da Fundação, porque os governos passam e a arte fica. Sinto mesma pela forma como fui exonerado, sem conversa, sem debate, e por entender que, se fizeram comigo farão com qualquer um que ousar dizer que eles estão errados. Talvez eu tenha que pedir asilo em outro Estado, caso haja a reeleição mesmo, pelo menos durante os próximos quatro anos, mas ainda sonho que um dia teremos um classe mais atuante e unida, e um projeto público democrático para a cultura desse estado e dessa cidade, sempre à margem, sempre provinciana, sempre feita de balcão de negócios, sempre particularizada, nunca pública, mas com gente muito mais do que capacitada e talentosa para fazer cinema, música, teatro, literatura e tudo aquilo que em todos os outros estados é tratado com um pouco mais de zelo.

Só torno público uma questão aparentemente privada, porque quando entrei para a FFC o assunto também se tornou público. E mais uma vez, me desculpem por não ter conseguido – apesar de ter sido pago por um ano com o dinheiro de vocês – ter revertido esse quadro. De qualquer modo, tentei, internamente, várias vezes, emplacar o projeto que todos esperavam, que é acabar de vez com a política de governo para a cultura e transformá-la numa bela legislação, que atenda a todos, sem discriminação, e a transformando em uma questão de estado, que é patrimônio de todos, não meu, nem seu, nem do senhores Dário Berger e Luiz Henrique, porque o governos desses senhores, não tenham dúvida, um dia vai acabar. Mas o filme (ainda que possa não se gostar dele sob o ponto de vista estético, até porque não tem todo esse propósito) será minimamente lembrado como um ato de resistência à truculência, ainda que pequeno, mas corajoso, muito corajoso.


Abraços

Fábio Brüggemann"


18 de outubro de 2006

Mais uma da Vera Fischer...

E-mail ótemo que recebi do Asdrubal hoje ...

"Alguém sabe porque não está havendo divulgação na mídia das apresentações em Florianópolis e São José – dias 17 e 18/10/2006 - da peça "Porcelana Fina", protagonizada por Vera Fischer e onde foram investidos R$ 500.000,00 catarineses? Tanto dinheiro investido e nada de divulgação? Só aquela micro-nota no Diário de ontem? Não pode? Porque será?

Se forem procurar na internet verão que há grande divulgação das apresentações em Blumenau, Joinville e Itajaí. Nestas cidades, digamos, menos informadas, ou, mais cegas às vergonhas culturais deste governo, e onde a classe artística não se rebelou contra a pouca vergonha, as apresentações estão sendo tidas até mesmo como uma honraria concedida pela nobre filha do nosso estado! Pode?

O que se diz por aí – em off, claro! – é que a produção da peça no Rio de Janeiro, um mês atrás, quando tentava arranjar gente que produzisse a peça por aqui na Ilha da Magia, ligou pros encarregados do governo pra avisar que viriam fazer a turnê catarinense no mês de outubro. O encarregado desavisado exclamou: "Agora? Antes do segundo turno das eleições? Não dá pra cancelar?" Ó coitado! Tendo resposta negativa somente coube a este se certificar de que não haveria logo-marcas do governo catarinense nos cartazes e banners da peça por aqui!

A produção da peça no estado teria ficado pra uma produtora de Joinville que se dispôs a bancar a vergonha.

Massa, né?! "

8 de outubro de 2006

Por que não precisamos da escola do teatro Bolshoi no Brasil...

MAÍRA SPANGHERO
PROFESSORA DE COMUNICAÇÕES E SEMIÓTICA DA PUC/SP

Para quem nunca ouviu falar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, trata-se de um empreendimento encabeçado e implantado pelo casal Joseney Braska Negrão e Antônio João Ri­beiro Prestes, em 2000, como única filial de uma escola que não existe na Rússia. O que existe são o Balé Bolshoi, o Teatro Bolshoi (ambos funda­dos em 1776, em Moscou) e o Centro Coreo­gráfico. Esse detalhe não passou despercebido pela imprensa especializada, e a denúncia pode ter sido um dos fatores que levaram à mudança do nome de Escola do Balé Bolshoi para Esco­la do Teatro Bolshoi no Brasil. Prestes é o repre­sentante da empresa Paramount Advisory Services Limited, que responde pelo Bolshoi no Brasil, num contrato que dura até 2009. De qual­quer modo, o que importa, neste momento, érefletir sobre a importância deste acontecimento para nossa sociedade e a relevância de sua conti­nuidade no atual estado de exceção (ver Giorgio Agamben) em que nos encontramos. Por que cargas d'água a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil seria um dos melhores investimentos para o setor cultural de nosso país e, especificamente, para nossas crianças e jovens?

Antes de continuar, um rápido parênteses. A idéia aqui é que a reflexão tenha um sentido fundamentalmente coletivo e não seja pautada num interesse individual ou restrito. Isso signifi­ca que eu não estou pensando nos meus filhos, mas nos f1lhos do Brasil. Para tanto, é preciso não levar em consideração nem a ascenção de carreiras políticas, nem as contas bancárias, nem, tão-somente, a possibilidade da minha filha ser uma das bailarinas talentos as a ser revelada que, depois, se tiver sorte, será importada para algu­ma companhia de algum país rico do hemisfé­rio de cima. Suponho que exportar artistas não está entre as principais atribuições de um país em desenvolvimento. Além do mais, vale assina­lar que o mercado interno para bailarinas clássi­cas é reduzido, dado o número pequeno de com­panhias profissionais e a quantidade de escolas e academias brasileiras que as formam, sem falar nas escolas dos próprios teatros municipais. Desse modo, parece bastante razoável questionar se esse"negócio da Rússia" não é, na verdade, um "ne­gócio da China".

O aspecto econômico talvez seja o mais delicado de todo esse faz-de-conta, devido às investigações judiciais, à exigência de transparên­cia financeira e à responsabilidade social com o uso de recursos públicos. Vale lembrar que só o patrocínio dos Correios foi de dois milhões, e estima-se que existam outras tantas cédulas en­volvidas. Como se sabe, a matriz da escola que não existe cobra 130 mil dólares anuais pelo di­reito de uso de sua marca, como seria de se su­por em qualquer franquia. Se não fomos consul­tados antes, mas se pudermos opinar agora, valeria a pena repensar se temos mesmo a necessidade de pagar pelo aluguel da grife de um método, se temos profissionais alta­mente capacitados em nosso próprio país. Será que não estamos desembolsando além da conta pelo uso de uma marca e, por adi­ção, pela cessão de honorários de USS 192 mil anuais para professores e pianistas russos? Por que será que não estamos valorizando o sufici­ente os profissionais qualificados que atuam em nosso mercado? E, por fim, por que não cria­mos melhores formas de intercâmbio?

A questão financeira fica ainda mais delica­da quando comparamos a Escola com outros projetos. O balanço custo-benefício entre verba investida, natureza do empreendimento, núme­ro de pessoas beneficiadas e de que modo cha­ma a atenção pelo desnível (considerando nesta matemática apenas a parte de recursos públicos). Quem se interessa por projetos sociais na área de dança precisa conhecer iniciativas que também vêm tendo sucesso, mas numa outra dire­ção. São propostas que estimulam o protagonismo e a cidadania, ao contrário do anterior, que reforça o processo de dominação/ colonização e a repetição de estéticas anacrôni­cas. Em Araraquara (SP), a Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira foi baseada na bem­ sucedida experiência da Escola Municipal de Dança de Caxias do Sul (RS) e vem efetivando um trabalho de inclusão há três anos.

No Rio de Janeiro, o Dançando para não Dançar é realizado desde 1995, com o o objeti­vo de dar acesso à profissionalização, através do ensino do balé clássico, às crianças moradoras de dez comunidades cariocas de baixo poder aquisitivo. A associação Dançando para não Dançar possui convênios com a escola de Balé Staatliche Ballettschule Berlin e com o Balé Na­cional de Cuba, o que é bem diferente de pagar franquia. O projeto recebe investimento menor que 500 mil e atende 450 crianças.

Outro exemplo de baixo investimento e alto retorno é o Núcleo de Dança Votorantim, no in­terior paulista, uma proposta criada e coordena­da, desde 2001, pela Quadra - Pessoas e Idéias, em parceria com a Prefeitura Municipal de Votorantim e com o recente apoio da Empresa Votorantim Cimentos (Unidade Sta. Helena/Sal­to). Nesses cinco anos de existência, 346 pessoas, entre 8 e 35 anos, participaram gratuitamente das atividades oferecidas (diversas aulas de dança, te­atro, vídeo, etc.), além dos encontros especiais, como o Papo Papai, que atendeu 975 familiares. Nesse meio tempo, foram também produzidos 29 espetáculos de rua, 16 para o palco e 45 performances que acontecem em bairros perifé­ricos, cidades vizinhas, outros Estados, feiras li­vres, bancos. praças, escolas municipais e estadu­ais, universidades, terminais de ônibus, igrejas... O público estimado até junho deste ano estava perro dos 159 mil espectadores. Esses números indi<:an1, por acréscimo, um outro detalhe: toda a comunidade (família, amigos, pessoas de passa­gem. crianças, jovens, adultos, etc.) é integrada e participa. Para se ter uma idéia da desproporção, os recursos públicos destinados ao Núcleo de Dan­ça para este ano ficaram em RS 67.000,00. Se di­vidíssemos este valor por mês, chegaríamos a duas conclusões assustadoras: primeiro, pode-se fazer muito mais com muito menos e, segundo, não há mais cintura para tanto jogo. A verba precisa aumen­tar, pois administrar ações coletivas desse porre com 6 mil reais men­sais exige um rebolado que não épra menos. Já pensou o que pode­ria acontecer se uma parcela dos re­cursos destinados à Escola do Tea­tro Bolshoi fossem encaminhados para Votorantim?

E não é só isso. Com uma metodologia em constante transfor­mação e adaptação (compatível com a realidade complexa em que vivemos), um dos diferenciais mais importantes do Núcleo é apostar na dança como ferramenta para construir cidadania. Quer dizer, a dança oporrunizando um espaço para o conví­vio das diferenças. Os coordenadores Mar­celo Proença e Rodrigo Chiba não têm a pre­tensão de formar bailarinos profissionais, po­rém, não perdem essa perspectiva de vista nem um minuto. Uma das provas disso é o excelente "TPM (testosterona precisando de moderação)", espetáculo criado por um grupo de adolescentes, que tratou cenicamente - de modo responsável, sutil, inteligente, bem-humorado e sincero - da­quilo que acontecia em suas vidas. Se em Votorantim o que ganha força é a cultura do cole­tivo e do protagonismo social, em Joinville o que se alimenta é a cultura do pódio e a estruturação de hierarquias fixas.

O sentido pedagógico e artístico implica­do nesta ação é infinitamente mais eficaz do que o ensino do método Vaganova, mesmo nome da famosa bailarina Agrippina Vaganova, o mé­todo adotado pela Escola. Apesar de todos ter­mos mãos, pernas, braços, cabeça, não seria um risco muito grande afirmar que os corpos da Rússia são razoavelmente diversos dos nossos. Comem coisas diferentes, bebem mais vodca do que cerveja, estão expostos a um clima mui­to mais frio, falam outra língua, possuem uma trajetória histórica, política, social e cultural sin­guIar, entre outras inúmeras características dis­tintivas. Por que, então, deveríamos importar (e pagar) pelo uso de um modelo de treinamento corporal e cultural que se desenvolveu para aqueles corpos e não para os nossos? O que está se en­sinando de fato? Para quê? Para quem?

Para quem desconhece a situação dos pro­fissionais da dança em nosso país, é preciso sa­ber que não contamos com nenhuma política pública que atenda às nossas necessidades nos planos federal, estadual e municipal, exceto por algumas poucas iniciativas, geralmente fruto da inteligência e comprometimento específicos de algumas pessoas, em alguns mandatos. (Lem­brando que não se pode reduzir política cultural a leis de incentivo. Outro dado relevante a ser lembrado é que Santa Catarina abriga um dos mais importantes grupos de dança do mundo, o Cena 11, e a companhia luta constantemente pela sua sobrevivência através de patrocínios, que, em geral, são insuficientes. Em contrapartida, cifras que parecem exageradas são destinadas ao culti­vo não-antropofagizado da cultura russa em nos­sas terras. Tem alguma coisa estranha nessa ma­temática, ainda mais diante dos mais de 15 anos de esforços e trabalho árduo que o Cena 11 vem dedicando para construir uma Iinguagem artísti­ca de excelência. Além da qua­lidade da produção/criação artística valiosa (ao contrário da importação estética colo­nizadora) e da divisa cultural, a existência de uma compa­nhia como essa estabelece um ambiente propício para a profissionalização de inúmeras outras pessoas, como profes­sores, produtores, iluminadores, figurinistas, maquiadores, músicos, técni­cos, bailarinos, etc., o que re­vela o caráter multiplicador contido num investimento desse tipo.

A escravidão cultural está tão encarnada em nós, que muitas vezes não nos damos conta dela. Mas, se pararmos para ponderar, não parece muito natural achar que o que vem de fora é melhor do que aquilo que pode ser produzido por nós. O refutável dessa relação é a assimetria de valor entre o estrangeiro e o nacional. Sem esquecer que os intercâmbios são bem-vindos, pois é no miscigenar que as culturas se mantêm vivas e se propagam com mais força.

Tenho que concordar com o Manco Asturras e afirmar que estamos desperdiçando o nosso precioso Oswald de Andrade (lê-se Osváldi) com os ensinamentos de sua operação antropofágica, herdada daquilo que para nós é mais legítimo, os índios caetés.

2 de outubro de 2006

Sobre a política do pão com ovo...

Toda vez que eu penso em política eu sinto uma dor que eu nem posso explicar onde é. Fica feio explicar essas coisas. Eu me sinto simplesmente um analfabeto no assunto, ou quando muito entendo das questões que dizem respeito ao meu ofício, ou seja: eu sempre sei quando o sujeito está pondo a cultura de lado [leia-se "cultura" como meio cultural, e não me venham com teoria antropológica, please!] ... E ainda que não seja um especialista no assunto "política que fode artista", eu acho que posso aproveitar a vinda do segundo turno pra fazer uma campanha anti Luís Henrique da Silveira ... porque chega, né?!

Desde que o excelentíssimo Sr. Silveira saiu de Joinville - por ele transformada numa espécie de colonia do Bolshoi - pra ingressar na função tão meritória de governador, a vida do artista foi ficando cada vez mais difícil, e com isso o vínculo da arte com o todo do estado, a criação de outra veiculação artística nos âmbitos menos centrais e 'empompados' ficou pior ainda. E as histórias são muitas ...

Como esquecer a famigerada extinção da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), misturada no mesmo balaio do Esporte e Lazer, na tal SEITEC? Como entender que um governo que levanta a bandeira da 'descentralização' consiga ter a cara de pau de subdividir a arte à um dos segmentos de algo chamado SEITEC. Tão fácil quando distinguir arte de esporte é distinguir arte de lazer... Essa é a pedra no rim: 'arte é lazer'. Estamos falando de um governo que tem a displicência de 'confundir' arte com lazer, um governo que investe meio milhão de reais (do nosso imposto... sempre bom lembrar) pra Vera Fischer montar um espetáculo no Rio, com atores do Rio, cujo processo não contribui em nada para a cultura catarinense, e que, quando vier a Santa Catarina, terá um custo de cerca de 30 a 50 reais por ingresso ... quem é que pode ver espetáculo por este valor? As comunidades carentes defendidas pelo plano de governo do Sr. Governador? Perdão ... alguém falou em descentralização mesmo?

E mais ... como conceber que alguém pense que descentralizar é criar as benditas "Arenas multi-uso" pela cidade. Pra quê, meu Deus?! Por que raios precisamos de elefantes brancos de multi utilização - que ainda levam o nome de miss e não de atriz - espaços cujo custo poderia ser destinado à criação de espaços menores que funcionariam muito mais em comunidades que necessitam de centros culturais. Assim, com espaços culturais descentralizados, a arte poderia ser acessível à uma comunidade, criar vínculo com suas necessidades primordiais. Eu não acho que o teatro cura a fome da barriga. Cura uma outra fome... a que a gente acha que tem menos. Então, chega de arroz e feijão, chega desta política 'pão com ovo'. A gente quer a tão falada descentralização no seu sentido real, e não essa palhaçada que na qual só acredita quem tá dentro do elefante.

Eu não presto atenção no todo da administração pública... eu sei e assumo (sempre tenho milho pelos cantos da casa para sessões de punição) Mas saber, assumir e me punir não embeleza minha alienação. Contudo, isto de que falo é algo que eu vejo. É com isto que eu me emputeço, e isto quero divulgar! Sei que pra muitos eu não estou dizendo nada novo, mas pra quem acaba de saber: eu peço seu voto. No segundo turno vote em qualquer um ... pelo amor de Deus!!! Mas chega de Balé da Hungria cuja vinda custa a manutenção anual de um balé brasileiro... chega desse bolshoi que forma sei lá o que pra quem ver ... de editais fraudulentos, de dinheiro captado por artista rendendo por três meses na conta do governo... chega de palhaçada ... vote em qualquer um, menos nele ... fica dado o recado!

29 de setembro de 2006

Cinema de Guerrilha na Terra do Bolshoi...

Matou o Cinema e Foi ao Governador , longa que reúne 10 diretores discutindo a política cultural catarinense, estréia nessa sexta em Florianópolis.

O longa-metragem "Matou o Cinema e foi ao Governador", um filme de ficção com dez episódios, cada um deles escrito e dirigido por um diretor, estréia sexta-feira, dia 22 de setembro, às 19 horas, no Cineclube Nossa Senhora do Desterro, no Centro Integrado de Cultura (CIC).
O filme foi idealizado pelo cineasta Marco Martins com o objetivo de questionar a forma ditatorial como é conduzida a rarefeita política pública do governo para a cultura.

O longa está sendo produzido de forma coletiva há 40 dias, com discussões dos roteiros individuais com o objetivo de formar uma unidade cinematográfica, e foi custeado pelos próprios realizadores. Os episódios são peças de ficção, com linguagens e gêneros bastante diversificados, que tratam com ironia a cena cultural catarinense.

Depois da exibição no CIC, o filme será apresentado na UFSC, na Unisul, na Estácio de Sá, no Museu Victor Meirelles, no Clube de Cinema Sol da Terra, além de exibições ao ar livre.

Com 1h40min de duração, "Matou o Cinema e foi ao Governador" será exibido em sessões em cidades do interior do Estado, será disponibilizado também na internet e será inscrito em festivais nacionais e estrangeiros, além de ser exibido durante o próximo Catavídeo.

O filme conta com a participação de atores, que incluem Paulo Vasilescu, Renato Turnes, Álvaro Guarnieri, Graziela Meyer, Demétrio Panarotto,Chico Caprário, Rafael Pereira Oliveira, Gláucia Grígolo, Malcon Bauer, Milena Moraes, Daniel Olivetto, Severo Cruz e Julie Cristie entre outros.


ESQUERDA DIREITA VOU VER por Camila Sokolowski: Uma animação bem massa.

SPRAY, por Breno Turnes: Em meio a uma onda de manifestações populares, um garoto resolve comprar um spray e fazer um grafite, mas acaba revivendo a repressão. A juventude impedida do acesso à cultura e à livre expressão.

OS VAZIO, por Fifo Lima: a especulação imobiliária na voz de um bacana e de um corretor. Um belo parque da cidade será mais um shopping, não importa o futuro, afinal eles não estarão mais aqui.

APEIROKALIA, por Jefferson Bittencourt: A doença de não ver o Belo. Um casal de artistas discute a função da arte na vida das pessoas.

COMO SER ESTÚPIDO, por Fábio Brueggemann: O encontro entre um artista e um dirigente cultural onde verdades intoleráveis vêm à tona.

O EMETISMO, por Fábio Brueggemann: O que causa ânsias incontroláveis e vômitos frenéticos?

ROSA B.B., por Renato Turnes e Loli Menezes: Numa república latino-americana em guerra, o ditador constrói para sua filha querida um mundo de ilusão, fazendo-a acreditar que é uma talentosa estrela do show-busines.

DELÍRIO, por Maria Estrázulas : Quando os egos se encontram num set de filmagem em uma praia qualquer, um motim explode. Quatro personagens deliram enquanto tentam atribuir para si próprios, os créditos do último filme, antes do assassinato do cinema.

O POVO DA CORTE, por Chico Caprário: Na Idade Média um bobo da corte resolve apresentar um projeto cultural ao Rei e seu Conselho Real de Cultura, mas para não perder a cabeça deve apelar para as sapatilhas de ponta.

FRANCO, por Marco Martins: Um homem atacado pela náusea diante do poder e dos políticos precisa pôr pra fora sua indignação.

LULA ADORÉ, por Cláudia Cárdenas e Rafael Schlichting: Na casa de praia do governador um jantar comemorativo aos projetos culturais do estado reúne os maiores responsáveis pela criação, divulgação e incentivo governamental à cultura estatal. Como entrada uma sopa de orelha de porco com feijão preto em homenagem ao governador é servida, mas os convivas parecem estar interessados em outros assuntos... Nem mesmo o prato principal, Lula Adoré, a chamada piéce de resistance, é devidamente apreciada.

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Inicialmente, Marco Martins teve a idéia de fazer um curta-metragem para contestar a política vigente, a falta de opção eleitoral, e absoluta falta de opção em quem votar: Eu queria contar a história de um franco-atirador. Obviamente isso veio por eu estar bastante descontente com a nossa situação política, não só cultural.
No filme, trabalham 60 profissonais, com fotografia, assistência de direção, produção, figurino, direção de arte, montagem, maquinaria, iluminação e som .

Reforma na Casa .........

Novo espaço para torcer o nariz ... ou seria uma nova modalidade num mesmo espaço? A verdade é que eu meio que cansei desta coisa do fotolog e resolvi voltar a ser uma pessoa chata mesmo... destas que falam e acham que alguém vai acabar lendo ...

Então fica inaugurado este novo momento (putz ... ele adora fazer evento!)

Amanhã eu posto um texto que eu não sei onde salvei ...

abraços a todos!

29 de junho de 2006

Vinho, Mentiras e Vídeotape


Dessa vez ele se passou! Michael Haneke é realmente um dos grandes filhos da p... do cinema, no melhor dos sentidos. Sim! Porque quando eu crescer eu quero ser que nem ele.

Depois de "Violência Gratuita" (cujo título original "Jogos Divertidos" funciona melhor) e de "A Professora de Piano", Haneke explora em seu filme mais recente, "Cachê", tudo o que de melhor o cinema europeu tem - sempre e teve e não pára de reencontrar - e não perde a linha na construção desse filme pra lá de inquietante.

Um casal de classe média começa a ser assombrado por vídeos que começam a surgir misteriosamente na porta de sua casa. As gravações exibem horas de filmagem da fachada da casa ou de outras imagens que vão incitando a construir um quebra cabeça de queimar os fuzíveis.

Nesta aparente produção francesa comum mora o charme cruel de Haneke, que opta mais uma vez por um filme limpo, de atuações sóbrias e inteligentes de Aulteiul, Binoche, e (pra falar a verdade) de todo elenco. E o principal: um filme que não tem as velhas pretenções de deixar mensagens fechadas e direcionadas. A versão de Haneke está posta, mas não é única. E isto é parte grande da maestria do cineasta: quem constrói o quebra cabeça se as questões parecem não se afunilar para um desfecho?

"Caché" é um acontecimento raro no cinema. Trata-se de um filme que inquieta por nos fazer tentar desvendar um suposto mistério. Um filme que nos barbariza com suas metáforas silenciosas. Seus videotapes nos põem diante de um enigma sem uma solução apropriada. E Haneke... bem, já não há mais adjetivos pra esse homem, devo confessar.

28 de fevereiro de 2006

Um Noir no Ar


Sempre bom ver filmes que fogem do trivial! Em Boa Noite e Boa Sorte, que concorre a diversos Oscars na próxima semana, George Clooney surpreende na direção de um filme incrivelmente tenso. Tenso no verbo, o que é mais interessante ainda. Roteiro inteligente e bastante ácido. Técnicamente impecável. Elenco de primeira ... e David Strathrain (na foto) simplesmente fantástico (contido e intenso). Belo filme: curto e grosso. O que me intriga é ser curto e grosso (e frenético) articulando um discurso complexo, cheio de meandros e detalhes. Clooney acerta em cheio ao embolachar nossa cara sem cerimônias. Filme repleto de bons detalhes (pausas, olhares, sugestões, sons... lindo) e primorosamente editado. Cara de film noir só que caótico e de diálogos atravessados. Hoje o texto é curto e grosso... como o filme. O filme me deixou assim: ríspido, curto e com chispas de esperança. Mas, vocês só vão entender isso quando verem o filme. Por hoje é isto ... boa noite ... e ... boa sorte!